Ei, pai! É difícil mesmo. Quem falou que ser pai era fácil, mentiu feio. Não é fácil, não. É bem possível que você mesmo fizesse uma imagem distorcida do ser pai. Como eu, talvez tenha imaginado que, para ser pai, era preciso ser o super-homem, sonhando-se ídolo, modelo e mestre. Você tem que ser tudo isso, sim. Mas não do jeito cinematográfico que imaginava. Ser pai não dá Oscar. Ninguém aponta para você na rua e fala admirado: "olha, é ele, o pai!".
Ser pai é desdobrar fibra por fibra do saco. Tem que ter uma paciência espetacular. Muitas mulheres reclamam que são mãetoristas. O pai é motorista por definição contratual e nem tem direito de reclamar. Se reclama, já dizem que é meio frutinha. Se não dirige, então...
Do ponto de vista do marketing pessoal, ser pai é até meio sem graça. Você continua trabalhando do mesmo jeito (Ã s vezes, até mais). As dívidas só aumentam. Os problemas se multiplicam. E a quantidade de coisas por consertar é assustadoramente maior.
O pai só ganha importància na hora de crise. "Vou chamar o seu pai para uma reunião!", diz o diretor da escola. E algumas escolas nem comemoram o Dia dos Pais! O filho briga na rua e o pai lutador de jiu-jitsu do colega que apanhou fala com aquele vozeirão: "eu vou acertar as contas com o seu pai!". O filho apronta em casa e a empregada vai logo falando: "pera aí que eu vou telefonar para o seu pai!".
Tem um lado positivo. Ninguém xinga ninguém falando mal do pai. Ou você já ouviu alguém xingando "é o pai!!!"? Se um outro motorista gritar para você "seu filho da mãe!" dá direito a duelo. "Seu filho do pai!" eu nunca ouvi. Eu, por exemplo, acharia até engraçado um xingo desses.
Não, ser pai não dá o mesmo status de palavrão conferido à s mães. Só se você pisar na bola. Se for mau político, por exemplo. Aí complica. Mas vai ser xingado pela profissão, não por ter filhos.
Agora, cá entre nós, tirando a brincadeira machista, eu adoro ser pai. Porque se não o fosse, não seria nada. Sou cada vez menos um super herói idealizado. Até aprendi a chorar em público e desenvolvi uma certa condescendência em relação à s minhas incapacidades.
Respondo para a Jéssica, de seis anos, que nem desconfio o que seja um blaqueossauro. Não escondo minha falta de jeito quando a Mónica, de oito, vira para o garçom do restaurante e diz, "você é lindo!". Devolvo o mesmo olhar de espanto para o João Paulo, de 10, quando ele não consegue acionar um joguinho no computador. E falo humildemente para o Gabriel, de 20, que ele tinha razão e eu estava errado: o governo FHC é um porcaria e isso não é discurso imaturo de quem acabou de entrar na faculdade.
Ser pai, meu amigo, não tem nada do hollywoodiano galã que pode tudo. Ser pai é ser limitado e torcer apaixonadamente para que os filhos não aprendam os mesmo defeitos. Ser pai é voltar a ser filho. Ser pai é reaprender com os filhos. E revisar as relações com o pai que já se foi ou está velhinho com a ligeira sensação de ter desperdiçado muitas lições.