Usina de Letras
Usina de Letras
29 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 63136 )
Cartas ( 21349)
Contos (13299)
Cordel (10355)
Crônicas (22578)
Discursos (3248)
Ensaios - (10647)
Erótico (13588)
Frases (51619)
Humor (20167)
Infantil (5584)
Infanto Juvenil (4929)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1387)
Poesias (141264)
Redação (3357)
Roteiro de Filme ou Novela (1065)
Teses / Monologos (2442)
Textos Jurídicos (1966)
Textos Religiosos/Sermões (6344)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->De volta à bancada -- 26/07/2001 - 14:21 (Maurício Cintrão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Hoje, voltei à joalheria. Não, não sou rico. Voltei ao exercício de fazer umas pratas batidinhas, que algumas senhoras desavisadas chamam de bijuterias. Prata da boa, eu garanto. Compro em estado bruto, nas casas que vendem metais preciosos no centro da cidade. Não tenho a mínima idéia quanto à sua origem. Mas não deve ser prata de mina, porque quase já não se produz prata como já foi um dia. A prata que uso é pura, tenho certeza. Mas não vem direto da terra. É fruto da reciclagem, prata derretida, purificada e revendida. Já deve ter sido anel, baixela ou pedantif, vai saber.

O que importa é que voltei à lida. Retomei uma vontade adormecida, coisa dos meus invernos interiores que congelaram projetos e mumificaram os sentidos. E voltar a tocar em todas aquelas ferramentas foi como viajar de volta no tempo a um período em que investia horas e horas seguidas a buscar transformar chapas, fios e lingotes em peças de sonhos. Se aos outros assim não parecia, não me importa o mínimo. Aqueles trabalhos foram pedaços dos meus sonhos. Ainda guardo alguns pela casa e uns poucos em uma velha caixinha de metal.

Lembro da primeira vez que tive contato com a atividade. Meu filho Gabriel era amigo do Fernando, filho da Lilia Costa, artista plástica e joalheira dona de uma escola formadora de joalheiros. Fomos convidados por eles a ir a uma exposição dos trabalhos da turma daquele ano. Confesso que considerava o passeio uma chatice sem par. Mas foi só entrar na casa onde funcionavam as bancadas para descobrir que ali estava uma nova praia para meus sonhos.

Eu era editor de uma revista e fiquei tão encantado com o trabalho deles que acabei propondo uma pauta sobre as pessoas que abandonavam suas profissões originais para se dedicarem à joalheria artesanal. Dublê de enfeitiçado e repórter, fui fazer uma entrevista com o pessoal da escola. E conheci a Vera Moura, minha futura professora. "A joalheria é a combinação da delicadeza do crochê com a violência da metalurgia". Marcou tanto que nunca mais esqueci dessa definição. Fiz a matéria e a matrícula.

Olho as peças remanescentes daquele tempo de sonhos e me emociono. Elas trazem pedaços muito especiais de pessoas que me acompanharam naquelas jornadas de descobrimento. Conheci novos continentes entre braceletes, pingentes, anéis e brincos. E descobri que meu pêndulo pessoal parecia bandear mais para os lados daquela arte do que de qualquer outra. Sinto esse balançar novamente agora, com minhas pratinhas reveladas à luz, depois de tanto tempo.
Lembro da Lilia convidando: "vem experimentar, vem estudar com a gente". E do sorriso matreiro do Fernando: "eu disse que vocês iriam gostar!". E das risadas do Israel, pai dele, diante das pepitas prateadas no cadinho que não se dissolviam sob o calor do maçarico: "conversa com ela que ela cede, conversa!". E da impressão bruxa que se tem da vida quando o metal se torna líquido a mil e tantos graus, parecendo uma zombeteira bolinha prateada.

Está decidido: vou voltar à joalheria. Isso não pode ficar só na lembrança.

Maurício Cintrão
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui