Vivemos em tempos de grande consumismo e talvez, por isso, só o que interessa sejam as coisas materiais que possam ser úteis e causem o mínimo de transtornos. Quaisquer dificuldades ou embaraços são evitados e repelidos com veemência. Assim prefere-se emprego - não trabalho -, e as atividades não remuneradas, via de regra, somente são executadas por aposentados ou pessoas que precisam preencher o tempo com alguma ocupação. Também a correria- todos procuram avidamente faturar alguns trocados (naturalmente para consumir)-, faz com que o utilitarismo predomine. Desta forma, com o predomínio do utilitarismo, poucos se interessam, com os problemas religiosos e sociais.
Em outros tempos, por exemplo, travavam-se grandes polêmicas entre católicos e protestantes. Destacaram-se, entre outros, os católicos Carlos de Laet e o Padre Leonel Franca e os protestantes Eduardo Carlos Pereira e Otoniel Mota. Hoje, o utilitarismo impede qualquer discussão. Ninguém deseja mais queimar pestanas para defender seu ponto de vista; dificilmente se manifestam para elogiar ou criticar. Querem sombra e água fresca. Constatamos, nessa ordem de idéias, que até na família o utilitarismo predomina. A permissividade reinante afrouxando bastante a autoridade, faz com que as repreensões paternas e maternas sejam evitadas ou desaconselhadas, porque concluiram ser inútil chamar a atenção e bem mais cómodo não repreender.
Desta forma não se discute mais quase nada, principalmente religião. Assim, a antiga proposição "fora da Igreja não há salvação", tornou-se obsoleta e não é mais inserida nos debates ou conversações. Quer-nos parecer que, face ao utilitarismo, todos se salvam e a questão de ser católico ou não, é mero acidente de percurso. Apostolado ou evangelização consistiriam apenas em aspectos literários ou poéticos do ensino religioso. Todos são excelentes pessoas, filhos de Deus e remidos por Cristo. Acredito que o erro da última frase seja o adjetivo excelentes. Infelizmente, excelentes pessoas são a minoria. A qualidade de excelente depende de aperfeiçoamento, da força de vontade, constitui portanto uma virtude. Uma das mentiras do utilitarismo é justamente essa de considerar todas as coisas como boas, inclusive as pessoas, tudo isso para não se ter o trabalho de refutar, contestar ou contrariar.
Tudo deve ser acatado, todas as inovações são boas, não se deve criticar ninguém (mesmo que se ouça, veja ou se leia as maiores loucuras ou baboseiras) porque não vale a pena perder tempo, eis que a réplica e a tréplica seriam quase inevitáveis. Há necessidade urgente de se aproveitar a vida. Portanto, não nos detenhamos com essas questiúnculas que, segunda a máxima do utilitarismo, são de lana caprina.
