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cronicas-->PLANADOR -- 18/04/2015 - 21:26 (JOSÉ EURÍPEDES DE OLIVEIRA RAMOS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PLANADOR

Para Durvalino Meletti (Pitininho)
e
Aparecido Augusto Machado (Cidinho)

"Escapei aos amargos grilhões da terra
E dancei no espaço com asas de prateada alegria." (1)


A decolagem é tensa. Arrastado, o planador é indefeso. Se, por mínima pane ou erro, falha o avião rebocador, é inevitável trombar ou cair em frente. No alto, solto o cabo de arrasto e ganho a liberdade do céu. Desatei-me do peso do mundo para a leveza da alma, mansamente escorregando entre nuvens esgarçadas que parecem sonho ou entre as espessas, úmidas, que desfocam a visão. O deslizar silencioso e macio descontrai e liberta, a flutuar em serenidade.
Navegador calado, o planador atrai as aves curiosas. Aproximam-se para examinar o estranho companheiro e com ele ensaiar esvoaçante balé. Sobem, descem, inclinam-se em curvas longas e em reversões fechadas, acompanhando o planeio do veleiro do ar. Seguem-no na procura das correntes ascendentes, a voltear o passarão; ensaiam rasantes, circundam e quase assentam nas asas do planador. Piam em incessante alarido, tentando uma comunicação impossível. A proximidade de tão diferente voador faz com que adormeça o automatismo que as mantém voando: glissam, derrapam, desequilibram-se e entram em atabalhoado parafuso, caindo alguns metros, até a recuperação do vóo. Pequenas e graciosas palhaças a tropeçarem nas próprias asas, retornam logo, tagarelando bem-humoradas, como a rirem de si mesmas.
Mas, apesar da experiência emocionante de velejar em cortejo com os pássaros, a probabilidade de se chocarem com partes sensíveis e vitais da aeronave, a inconstància e as rajadas repentinas de vento exigem fugir de sua alvoroçada companhia. O mergulho rápido, a descida até alcançar a velocidade em que a pressão do atrito assobie nas asas e a subida rápida em manobra de reversement (reversão, meio loop de 180°), separa a nave do alegre comboio.
No alto, distante da crueza do chão das ruas, desfruta-se do silêncio das alturas solitárias, da mornidade do sol e do refrigério do vento; da liberdade sem marcos, sem caminhos e sem limites, brincando de folha de papel. O céu todo aberto, de um azul muito claro que acalma, é pintado aqui e ali por solenes e lentas nuvens que enfeitam a imensidão, graciosamente fazendo e se desfazendo em caprichosas formas. No horizonte tão longe, as referências mais se confundem quanto mais alto se eleva. Aquele monte alto reduz-se a um ponto, quase nada; os rios tornam-se fios imprecisos. A mancha escura da cidade, borrão que enfeia a paisagem, perde os contornos, dissolve-se e desaparece no verde da natureza. No alto, o mais alto que se possa voar, sem os antolhos e as amarras daqui de baixo, mais próximo se está do ar mais puro e do olhar mais límpido da dádiva da Vida.


(1) "Alto Vóo", de John Gillespie Magge Jr.
1922-1941, tenente da Força Aérea Canadense.
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