| 
 
   
  
				| LEGENDAS |  
				| ( 
					 * )- 
					Texto com Registro de Direito Autoral ) |  
				| ( 
					 ! )- 
					Texto com Comentários  |  
 
  
  
 |     |  
   
 
	|
 | cronicas-->Do boteco pro bar do Teco -- 22/10/2013 - 10:26 (Brazílio)  | 
	
	 | 
	
	 |  
 |  |   
Do boteco pro bar foi o Teco mudar. E não num tico, mas em dous tempos porém, pra 
 
 
não estafar. E tudo ali do lado de cima da pracinha da estação e da fábrica do povoado 
 
 
de São Gonçalo do Brumado. 
 
 
O boteco era miúdo, singelo e a lembrança que a ele me prende é de ver, e cobiçar, entre 
 
 
as miudezas expostas na vitrine do balcão, os cadernos escolares "Avante", o chaveiro 
 
 
a que se chamava comumente de "pegadó" e os bonés da aba espelhada. Sem lograr 
 
 
meus intentos imediatos de terceiro grau, contentei-me com um par de bolinhas de gude 
 
 
que a venda de garrafas vazias, e laboriosamente por mim asseadas, havia produzido. 
 
 
Transação toda efetuada no próprio boteco do Teco. Que, aliás, era parente, de terceiro 
 
 
ou quarto grau.
 
 
Já o bar, ah, o bar era mais espaçoso, tinha mesas e cadeiras espalhadas, mesa de sinuca, 
 
 
a geladeira enorme, horizontal, de onde saíam os picolés, os sorvetes e as cervejas 
 
 
que a homaiada do vilarejo consumia e, que para deixarem o registro de seus feitos, 
 
 
dipelavam os respectivos rótulos que se soltavam com facilidade assim que a garrafa 
 
 
começava a "suar", e o passavam para o forro de madeira verde no teto do bar. E do 
 
 
piso de vermelhão a gurizada - e se quisesse também a muierada - podia apreciar aquele 
 
 
espetáculo inusitado bem acima de nossas cabeças, de rótulos de cerveja colados no 
 
 
teto, como se fosse um ceuzinho particular, estrelado aquele bar.
 
 
Nunca cheguei a ver a materialização de uma ação daquelas, mas minha suposição é de 
 
 
que a mágica se produzia com a ajuda de um lenço de bolso, dobrado, bem empapado 
 
 
de umidade, sobre o qual se colocava o rótulo virado com o respectivo traseiro para o 
 
 
forro verde. 
 
 
E o bom Teco, cujo nome, pelo visto, era Evaristo, mantinha-se impassível, servindo 
 
 
a freguesia, rodeado das suas muitas filhas moças que, na falta dum filho varão, em 
 
 
mutirão, nunca o deixavam na mão. E enquanto acumulavam um modesto tesouro 
 
 
quiçá, distraído o olhar do pai, se arriscavam a algum namoro, sem porém perderem o 
 
 
bom decoro.  |  
 
  |