A Esplanada dos Ministérios em Brasília, parece pacata. Seria uma avenida comum não estivessem lá certos endereços importantes. Centro do poder, tem seu charme mesmo quando limpa. Presta-se bem a documentários grandiloquentes sobre o planalto central, coração do Brasil e coisas do gênero.
Limpa que eu digo, é com a área central vazia, apenas o gramado bem cuidado e umas poucas árvores. Inicia com a catedral, depois os ministérios enfileirados como pedras de um dominó, uma fileira de cada lado. Entre uma fileira e outra, um espaço gramado enorme. No final, um palácio de cada lado e ao fundo a Praça dos Três Poderes. Coisa de cartão postal, de ilustração em livro de geografia. Limpa assim, parece organizada, poderosa. E é mesmo. Mais poderosa que organizada, é verdade. Limpa assim, mostra o poder, o formalismo das fileiras de ministérios, como se estivessem em ordem unida.
Felizmente, nem sempre é assim. De tempos em tempos a Esplanada é assaltada pelo povo. Quem diria? Outro dia estava cheia de cruzes, milhares delas, lembrando mortes em acidentes. De um dia para outro a Esplanada se transforma. Quase todo dia.
Papa, presidente, rei, papai Noel, rei momo, autoridades de todos os escalões, nacionais e importadas. Bandeiras, bandeirolas, escolares com bandeirinhas. Fogos de artifício ou bombas de lacrimogêneo. Descamisados e engravatados. Sem terra do MST, sem cabeça de origens diversas, com terra da UDR. Quadras de tênis ou camarotes de carnaval fora de hora. Presépio ou acampamento. Já teve de tudo e muito mais há de haver. Canhões, bombas de gás, cavalos, cassetetes, urutus - no plural que não são de andar sozinhos - estes não precisa repetir. Circo, trio elétrico, tri, tetra, ouro, prata e bronze, campeões em carros de bombeiros. Enterros em carros de bombeiros. Caravanas locais e importadas. Discursos, muitos, de autoridades ou gaiatos. Cruzes, balões de gás. Cardeal, bispos e freirinhas, toda a hierarquia. Festas, reclamações, passeatas, procissões.
A esplanada se presta bem à s multidões de todos os tipos, mesmo as de aluguel que não raro engordam caravanas de reclamantes variados que por lá passam ao longo do ano. As multidões são o charme da Esplanada. Cabe muita gente ali e quando ela está cheia, deve ser levada a sério. Deveria pelo menos. Se bem que fazem cada coisa na Esplanada.
Didática a Esplanada. Quando vazia, ilustra o livro de geografia, quando cheia, o de história.