Neste domingo, nem todas as mães estarão comemorando, bem como nem todos os filhos terão porque comemorar. Mães e filhos por todo o mundo estarão faltando. Uns porque estão doentes ou incapacitados. Outros, porque já se foram. Alguns porque nunca o foram.
Ter gerado ou ter nascido não é condição suficiente para ser mãe ou filho. O simples fato de ser mãe ou ser filho não garante nada, a não ser eventual grafia de nome ou registro de documento, quando muito. Ter sido, para algumas pessoas, pode representar apenas o que passou e não o Passado.
Há quem não foi mãe ou filho por medo ou por ignorància. Há quem não é nenhum dos dois, de fato, por absoluta insensibilidade. Há os que não quiseram ser ou, ainda, os que não conseguiram. Conheço vários que estão tentando. Uns poucos desistiram.
É certo que ainda há casos de mães e filhos que perderam a razão. Adoeceram e não reconhecem de onde vieram ou quem geraram, deixando de ser mães e filhos. Esses perderam a si mesmos, mas ainda podem ter quem os esteja buscando.
Há, porém, aqueles que perderam para sempre, para o inexorável. Perderam por conta da dinàmica da própria vida. Uns, simbolicamente, no desenrolar da trama do dia-a-dia. Outros, fisicamente, nas irreversíveis tragédias pessoais. Pois eu queria falar a estes últimos.
Desculpem se não tenho conhecimento de causa. Ainda conto com mãe e filhos vivos. Não sofro pelos buracos desse tipo de perda, apesar de já ter perdido pessoas queridas. Pois é por conta dessas minhas perdas que sinto a dor da solidariedade e queria oferecer o meu carinho a vocês nesse momento.
Saibam que, apesar da perda (e por ela mesma), temos um grande património. São muitos aqueles que não fazem questão nenhuma de lembrar de mães ou filhos que se foram. Lembrem-se: há mães ou filhos que nunca o foram e, por conta disso, não fazem falta. A vocês há quem falte. E, apesar do imenso vazio deixado pela perda, é a falta que assegura a lembrança dos bons momentos. Preservem-na.
Neste domingo, estarei levantando um brinde a minha mãe e a todas mães e todos os filhos que se foram e fazem falta. Vai ser meu jeito de dizer que estou com vocês, que estou com eles, onde quer que estejam. É um jeito de não estar só. Um jeito simples, porém singelo, de abraçar vocês.
Se puderem, façam o mesmo. Brindem por quem foi, pois só quem foi pode continuar sendo. Mães e filhos que perderam mães ou filhos queridos são donos da maior energia da vida, a lembrança. Seria melhor se estivessem aqui, vivos, é claro. Mas não estão. Pior seria se nem tivéssemos porque lembrá-los.
Assim, neste domingo, levantemos um brinde à memória de quem nunca partirá. Enquanto vivermos, enquanto lembrarmos, eles estarão vivos dentro de nós. Apesar da dor, eles ainda estão vivos dentro nós.