A MORTE VIROU ROTINA
Roberto Corrêa
Até a década de 70 a morte era uma coisa muito triste, inesperada, capaz de aborrecer muita gente, o comércio fechando quando aconteciam os desastres coletivos e assim por diante. Passados mais de 20 anos, a morte se banalizou, os acidentes e as tragédias aumentaram terrivelmente, não se comentando é claro, o assustador incremento da violência. Ao discorrer succintamente sobre a morte , não faço remissão à s crueldades da Antiguidade e de outros tempos bárbaros, mas refiro-me ao século XX , especialmente, onde até os seus meados prevalecia respeitável moralidade cristã.
Há excessos de terríveis assassinatos e os acidentes se multiplicam em terra, mar e ar, de maneira que - ao recebermos a notícia da morte de alguém ( salvo dos parentes bem próximos) -, nos mostramos quase indiferentes , pois incorporou-se à nossa rotina as notícias de mortes. Então, quando perpassa pelo espírito aquela lembrança dos Novíssimos, pensar na morte para evitar o pecado, o nosso pensamento fervilha. A morte já não é como outrora - aquela desconhecida e temida -, sobre a qual ninguém desejava falar, tampouco conhecer suas feições estranhas e horrorosas.
Hoje ela é noticiada e mostrada ao vivo por aquele aparelhinho chamado tevê, que muitos espalham por toda a casa, inclusive nos quartos, para dormir e acordar maravilhado com as imagens do mundo exterior... Vê-se, então, pessoas ejetadas do avião, ónibus se engavetando, explosões, implosões, incêndios, inundações etc., onde evidentemente, a morte é uma constante. Com essa rotina toda será que perdemos o medo de morrer ? Não acredito. Pelo contrário: achamos a vida cada vez mais maravilhosa, cheia de empolgações e desafios. Um dos maiores é tentar melhorar o mundo, cristianizá-lo , porque a doutrina do Rabi da Galiléia, nos prometendo uma vida eterna feliz , espanta a angústia da morte.
Somos convidados para uma vida sem fim, plena de felicidade, pois ausentes os temores e sofrimentos. Por quê não perseguir esse ideal ? Por quê, ao invés das más, não se cria a rotina das boas notícias ? Das realizações que melhorem a vida do homem em sociedade, dos projetos que aliviarão a pobreza, incentivarão a educação e tornarão o mundo um local belo, agradável e apetecido, a ponto da morte ser acontecimento natural, eventualmente triste, mas não rotineiro e cruel ?