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cronicas-->Admirável gado novo -- 06/04/2001 - 17:15 (K Schwartz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Lendo algumas matérias aqui na Usina, lembrei-me da minha adolescência (já faz algum tempo...) e das minhas aulas de filosofia. Lembrei do meu professor e dos autores que li. Entre eles, Aldous Huxley e seu excelente "Admirável mundo novo", que fala sobre a banalização do indivíduo e a maximização da sociedade enquanto mero objeto de consumo. Para aqueles que não leram, indico-o como leitura obrigatória - ainda mais em dias de economia globalizada.

Quando o livro foi escrito, parecia uma conto de ficção científica aberrador. No mesmo, a sociedade do futuro será dividida em castas (Alfas, Betas, Gamas e Deltas), sendo que todos os filhos serão concebidos e nascerão em incubadoras, onde serão manipulados geneticamente de acordo com a casta escolhida para o mesmo. Desta forma, os Deltas - a casta mais baixa e utlizada somente para trabalhos braçais - quase não possuem cérebro e parecem mais animais que seres humanos. Por outro lado os Alfas tem uma inteligência extraordinária. TUDO é voltado para o consumo. Se uma idéia é trabalhada e a mesma não traz vantagens para a sociedade (leia-se mais consumo) é descartada. As pessoas morrem mais cedo porém, não envelhecem. Tomam uma droga(esqueci o nome) que lhes permitem "viajar" e fugir do mundo. O sexo é liberado e o casamento não existe. No meio disso, surge uma pessoa qu entra em choque com essa sociedade, aí "o bicho pega".

O leitor acha que a obra supra citada não tem nada em comum com os dias atuais? A meu ver, o interessante da mesma é que ela não perdeu em nada a sua modernidade - apesar de ter sido escrita há mais de meio séulo. Ao pensar no quadro desenhado por Aldous Huxley não posso deixar de reparar que o futuro caminha para tornar-se presente a passos largos. Explico: Nossa sociedade já está dividida em castas - determinada pelo poder económico de cada um. Vem aí a revolução genética e, pessoalmente, acho muitíssimo improvável que consigamos estabelecer regras que inviabilizem o uso do ser humano em experiências desse tipo. Para os esperançosos, lembro que a igreja - na época órgão mais poderoso existente - já proibiu que se utilizassem cadáveres para fins de dissecação e houve gente que o fez (taí o Leonardo da Vinci que não me deixa mentir). Por acaso não vivemos em um mundo onde tudo é voltado para o consumo? Se você está estressado, sentindo-se angustiado, inconformado com alguma coisa, vá ao médico que ele te receita um calmante - a droga mais utilizada atualmente. Todos correm para as salas de cirurgia em busca da juventude eterna; utilizam botox (veneno de cobra) e outras coisas para reter ou disfarçar o envelhecimento. Isso sem falar no sexo - que está ai, ao alcance da mão - e no casamento, que está se tornando uma instituição falida.

Um dos pontos altos do livro é a transformação de Henry Ford em Deus. Onde nós falamos "Oh! Meu Deus!" eles falam "Oh! Ford!". Por que?! Henry Ford foi o homem que inventou a produção em série e, desta forma, permitiu a produção em massa - primeiro de automóveis, depois de tudo o que se quer vender. E o que a produção em série tem a vez com o pobre do Aldous? Sem me aprofundar muito, gostaria de citar o exemplo da produção de automóveis: No início do século XX, um trabalhador de uma montadora participava de todos os passos na produção de um carro, desde a montagem dos blocos até a pintura. Isso requeria um conhecimento técnico avançado, muito estudo por parte dos empregados. Na produção em série, cada um cuida de sua parte do trabalho e nada mais. Alienação total. Não se tem idéia de onde veio o carro, nem p´ra onde ele vai. Assim, qualquer Zé-mané pode ser contratado e, após um treinamento muito rápido, pode trabalhar. Foi o golpe de morte do capitalismo em qualquer esforço para divulgar-se a ciência e cultura por todas as camadas da sociedade. Para que alguém precisa ler e estudar se pode arrajar um emprego que não lhe pede esforço mental algum?! Resultado: elitização do conhecimento e aumento do abismo social. Nada mais justo que FORD substitua deus, numa sociedade voltada para o consumo inconteste.

Para onde caminhamos nós? Essa pergunta passa pela minha cabeça volta-e-meia, desde a minha adolescência, e o silêncio que se segue me angustia...

"Oh! Admirável mundo novo!" Exclama um dos personagens em determinada passagem do livro. Zé Ramalho estava mais que certo ao chupar o título para a sua música e cuspí-la para todos nós. Segundo as más-línguas, fez a música inteira durante um porre homérico. "Oh admirável país de caras, bocas e bundas!". O povo segue omisso, olhando p´ra frente esperando que lhe mostrem a nova diversão do momento.

Oh! Ford!



K Schwartz
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