Não tenho nada contra aqueles que lêem meus textos com certo descaso, como se estivessem aos pedaços, inutilizados ou mesmo como se fossem colagens mal feitas. Gostaria de saber, mas ninguém fala.
Porém, continuo escrevendo apesar disso. Continuo
fazendo o que sempre fiz: contando histórias. Gosto de
narrar o que aconteceu à minha volta ou reproduzir o
que fiquei sabendo. Tento descrever o que sinto e
percebo utilizando a informalidade da conversa. Nem
sempre consigo a mesma fluência. Tudo depende do tema
ou do estado de espírito.
Na verdade, escrevo como se estivesse preparando uma
carta para alguém. Acho que já falei disso. Não
escrevo para ninguém em especial, mas escrevo para
todos em específico. É um jeito meio maluco de dirigir
as palavras, mas é assim que com elas me entendo. Vou
enfileirando fatos, sentimentos e interpretações como
se jogasse xadrez com vários adversários ao mesmo
tempo, como naquelas demonstrações dos grandes
mestres. Mas não sou eu quem chega à vitória. Os
vencedores são aqueles quem lêem e, porventura,
gostam.
Você que está lendo este texto, agora, conquista uma
parte minha que eu nunca vou possuir. Porque os textos
acabam transformando-se em propriedade do leitor.
Posso eventualmente me remeter a alguma frase ou
período já usados que ilustrem determinado pensamento.
Mas é você, leitor, quem vai desfrutar das vantagens
da memória dos meus textos. Talvez pelo próprio
esforço em sintetizar conceitos e conteúdos, perco a
memória de meus próprios textos.
Esse deve ser o mecanismo a fazer com que, vez por
outra, eu repita um tema ou uma idéia. Fica a sensação
de "já vi", mas não a impressão de "já escrevi". Não
sei se outros cronistas sentem o mesmo. Aliás, fica
aqui um pedido. Se você escreve e sofre da mesma
amnésia da própria literatura, conte para mim. Ficaria
satisfeito em saber que a loucura dos textos repetidos
não é defeito, mas característica de quem escreve.
Mesmo que seja defeito, porém, continuo escrevendo.
Quero conversar com você, leitor. Quero estar nas suas
mãos, refestelado como um gatinho manhoso. Quero
emocionar você, quero tirar você da mesmice, quero que
você se identifique comigo pela semelhança. Acho que,
enfim, quero o seu carinho. É isso mesmo. Lá nos
confins do meu inconsciente devo estar querendo o seu
carinho.
Porque escrevo melhor quando estou sozinho. E
solitário fico quando não consigo estabelecer contatos
com o mundo que me cerca. Em alguma viagem
desconhecida, lanço esta carta de náufrago em busca
dos seus olhos e da sua sensibilidade de leitor.
Alguns vão dizer que isso é bobagem. Mas sempre existe
a possibilidade de encontrar o ombro amigo de alguém
que, completando meus desejos, leia este texto com o
olhar solitário de quem encontra satisfação
conversando em letras.
Pois essa conversa é dirigida a você, leitor amigo que
sozinho lê.
Alguns lançam sinais ao espaço em busca de vida em
outros planetas. Eu lanço letras de cronicas em busca
de vida neste planeta.