Jorge (vamos chamá-lo assim) teve apenas um emprego em toda sua vida. Sonhou em nele se aposentar. Comprar um carro e viajar. Rever amigos e parentes distantes na quilometragem, mas perto, muito perto do coração. Depois de 35 anos de serviço ininterruptos, já poderia, mas pensou: o que fazer com tanto tempo disponível? Aqueles sonhos? Com que dinheiro? Acontece então a graça inesperada. Sua empresa resolve substituir os empregados mais velhos por mais novos, com previsíveis salários mais baixos. Redução de despesas, a alegação. Ofereceu um Prêmio-Aposentaria para quem já tivesse as condições necessárias para tal. Jorge aceitou imediatamente, pois a empresa poderia mudar de idéia, "farinha pouca, meu pirão primeiro".
Em 35 anos de trabalho, nunca conseguira juntar tal quantia.
Era como tantos brasileiros, que até conseguem colocar em 1º lugar da lista de "sonhos de consumo", o carro. Prefere pagar aluguel residencial mas estar "motorizado", José não foi diferente, adquiriu o seu "possante". Telefonou para os mais chegados, que moravam em outras cidades, prometendo a todos que em breve lhes faria uma visita.
Não cumpriu a promessa. Havia um poste no meio do caminho.
E como diz o mestre Chico Buarque, "morreu na contra-mão atrapalhando o tráfego".