O passado é sempre um problema para qualquer um. Por mais corriqueiro e normal que tenha sido, revela aspectos que podem criar um certo comprometimento de imagem. Aquelas fotos que só a velha avó gostava de mostrar, por exemplo, do nenezinho de bumbum para cima, ah, essas são terríveis! Ainda bem que já não se fazem fotos nem avós como antigamente.
Mesmo na falta de fotos, as histórias da meninice são bombas-relógio prestes a explodir. Um velho colega de profissão, o Fernando Yassu, é mestre em relembrar o passado infanto-nebuloso dos colegas de sua cidade, no Interior de São Paulo. Meia hora ao lado dele e você desmancha de dar risada.
É dele, por exemplo, a história do pobre Saboroso. Segundo conta, ninguém conhece o rapaz pelo nome, só pelo apelido. A origem? Bom, diz o contador de causos que, nos tempos de troca-troca, "hum, que saboroso" era a expressão mais usada pelo então menino travesso. Saboroso, portanto, ficou para sempre, mesmo casado, pai de família e macho para chuchu.
Nem sempre as histórias comprometedoras remetem-se a passado tão distante. Um ex-colega de faculdade ainda amarga desagradável apelido. Gente boa, namorador que só, bebeu umas e outras em um baile de Carnaval e acabou encantando-se por uma linda foliona. Dança vai, beijo vem, explorou o torneado corpo da parceira e descobriu, de mão cheia, que não era ela, mas era ele. Colegas de trabalho registraram o acontecimento - até porque ele fez escàndalo no salão - e batizaram para sempre o incauto folião: Engate.
Apelidos... O mais chato dos apelidos é quando aparece algum amigo gozador e resolve lembrar, na frente de um grupo de conhecidos, essas histórias que já havíamos esquecido (ou fingíamos ter esquecido). Um certo jornalista do Vale do Paraíba, pequeno empresário das comunicações e profissional de grande gabarito, treme na base quando falam sobre competições infantis. Olha em volta e já fica esperando o gozador da vez para lembrar da sua história.
Ultimamente, até vinha ganhando mais confiança. Conquistou novos círculos de amigos, imunes ao vírus da memória nefanda. Mas o passado nos persegue. Contam que, na família, o meu amigo era uma unanimidade quando pequenino. Todas as mulheres o achavam um primor de bebê. Tão lindo que acabaram mandando foto dele para o concurso de Bebê Johnson.
Mas, por essas coisas que acontecem na vida, ele não ganhou. Foi o segundo colocado naquele ano. Vice-Bebê Johnson. O assunto poderia ter sido esquecido, já que este país não valoriza os vices. O problema é que o resultado do concurso provocou enorme revolta da família. Indignadas, as mulheres falavam: "como pode um bijuzinho desses ficar em segundo?".
E o segundo lugar, que estaria fadado ao esquecimento, eternizou-se no apelido que acompanha o candidato até hoje: Biju.
Dizem que, quando a gente fala do assunto, ele fica vermelho feito assadura.