Escrevo pra não enlouquecer. Nas madrugadas geladas, me distraio em meio à s palavras pedidas em busca de algum sentido. Escrevo quando quase sufocada, minha voz não consegue mais sair. Deixando-me muda. Mas escrevo, quando minha alma enraivecida resolve gritar, por algum apelo, por algum socorro. É quando extravaso toda a minha vontade, todo o meu desejo contido, reprimido, tentando sair. Uma vontade louca de sair rompendo as grades e os muros que construí em volta de mim. Por fim, ouço os ecos delirantes dos meus gritos sufocados por uma mordaça infernal. Ensurdecendo-me e apavorando-me sem saber o que fazer. E nesse momento eu saio sem rumo, perdida, marginal. A procura de um amor casual, perdido, sozinho, esperando alguém assim como eu. A beira da vida. Pulando o muro da repressão, do medo. Se atirando à sorte, melhor que à morte bem certa, caso eu não consiga mais fugir de mim.
Escrevo para afugentar os fantasmas, o passado tão sórdido, os amores perdidos. Para me drogar desse vício que me tira a dor em frases escritas. Uma dor por tudo o que não fiz. Por tudo o que não deu pra se fazer. Muitas vezes eu fui ao fundo, do mais fundo poço, pra não dizer que não fui. Inventei uma história pra viver a vida, já que a minha não tinha mais nada. É preciso inventar um sentido quando não se tem. Não tive sorte no amor. Nunca deu certo pra mim. Hoje sei que é assim, Ã s vezes não acontece, não é pra você. Levei uma vida buscando, anos tentando, e cheguei aqui. Lúcida, serena, sem pena de mim. Apenas constato o fato e busco viver com ele. Vou viver assim. Algumas pessoas têm sorte no amor, outras vão vivendo do jeito que dá.
Escrevo sobre o que vejo e o que sinto. Coloco toda a impressão que capto lá fora aqui no papel. Sinto a verdade escondida em cada olhar, filtrando dentro mim. Pedindo pra se revelar em algum rabisco, algum poema. Sofro com a verdade não dita, com a máscara que esconde cada emoção. Sou insana, profana, vadia, vazia. Oca de toda a praticidade, racionalidade, religiosidade, e qualquer outra idade que queiram me dar. Sofro por não ser ideal, por não ser igual, por fugir do padrão. Feliz daquele alienado que vive calado, aceita a vida e morre feliz.