Em setembro passado publiquei crónica ( Os problemas dos outros) que, em razão de visita forçada que tive obrigação de fazer naquela época (atendendo a tal de solidariedade ou caridade que somos obrigados a praticar), sugere-me voltar ao assunto. O casal de parentes que se separou com o abandono do lar pela mulher - de forma inesperada e inoportuna -, deixou-me bastante magoado , inclusive me fazendo meditar sobre as tristezas da separação. Se as simples separações por férias , mudanças em geral, já podem causar certa melancolia, que se dirá da separação de um casal, unidos pelos sagrados laços matrimoniais !
Desta vez, como se tratava de alimentar cachorros (também abandonados), fui obrigado a revisitar a casinha do casal "contemplado com o prêmio da separação". Lá estivera naquela época e achara tudo tão encantador, poético, e não pretendia mais voltar ali, criando mais poesia, em face das coisas inanimadas que emolduram a vivência humana (mesmo em face de alguma ruptura). O sol penetrava pelas janelas (naquela primeira visita), os cómodos se encontravam todos limpos - sala, cozinha, quartos, escritório e os móveis ( fogão, geladeira, telefone, mesas, cadeiras, cómodas, camas...) como que apelando para serem usados...
Desta vez, porém, fui apenas cuidar dos cachorros e do gato (este mais esperto, sempre se vira sozinho) e me propus não entrar na casa. Estava pessimista, pois certamente iria encontrar destroços da separação. Dei uma olhadinha através dos vidros, procurando nada ver de anormal .Mas, no terraço , em cima de uma mesa, notei uma caixa com material naturalmente tido como inservível. Não gostei de ver uma bolsa feminina ainda em bom estado com que presenteara a fugitiva e que fizera parte do uso diário dela, durante muito tempo. Depois localizei um tênis (keds) que a mesma usava , nas chamadas caminhadas de malhação. Aí me emocionei, lembrando daquela musica do Adoniran Barbosa quando fala que do ente querido só restou o seu sapato...
Os destroços da separação ou divórcio podem ser comparados com os da morte. A morte ninguém pode evitar, está incluída no roteiro da vida como última etapa - e que todos desejam procrastinar ao máximo -, mas a separação ou divórcio são plenamente evitáveis. Aí é que a moçada precisa ser bem esclarecida porque as forças do mal (disfarçadas das formas mais sedutoras), se regosijam quando conseguem destroçar as famílias. Luta-se pela paz, pela união , pelo amor, mas aceita-se a separação, o divórcio ? Momentos impensados podem arruinar muitas vidas. Tenho certeza que muitos separados se encontram arrependidos e não sabem como voltar atrás. Realmente, muitas separações são dolorosas, inclusive em novelas (conferir Terra Triste, digo, Terra Nostra). A oração, portanto, é o único remédio e espera-se que seja utilizado por aqueles que se defrontam com o problema.