Mais um pecado, que guardo neste texto cujas palavras, trancafiadas pela subjetividade da minha vontade egoísta, se mascaram em frases elaboradas para fugirem silenciosamente deste escandaloso defeito.
Defeito é uma palavra bem interessante para se desculpar os erros conscientes cometidos de forma descarada por tantas pessoas. A aceitação de um defeito é mais coerente que a aceitação de um pecado, portanto, facilita imensamente justificar-se com a frase "errar é humano". Mais que um clichê, é algo revestido de compreensão e compaixão até, que busca justificar o erro com outro: a subserviência.
A complexa relação estabelecida entre objeto e sujeito, ultrapassa a dialética para cair em sofisma que pode ser fatal. O sofisma da inversão de valores, onde a relatividade não está apenas no valor, mas na inversão também; onde o limite para o direito adquirido e direito "natural" da posse, é algo questionável.
Afinal as pedras que viraram pão, ao final da subida dos apóstolos e Jesus, eram da terra, ou eram "divinas" originárias? E o pão, era posse dos apóstolos que carregaram as pedras, ou de Jesus que as transformou? Segundo algumas teses teológicas, o que é divino é posse imaterial, portanto, é da humanidade que tem por dever preservar e cultuar, etc.
Eis que lhes pergunto: o que é avareza, se os representantes "divinos" de tantos deuses, são tão escandalosa e generosamente avarentos? E esclareço a pergunta: por que os católicos mantêm-se protegidos e isolados da miséria, pestes e doenças, trancados em suas monumentais paredes ornamentadas ricamente do Vaticano? Ah sim, pode ser uma questão de "prece". Já que o material de nada vale, o que vale é Cristo no coração. Então, por que toda a política do pseudo-país mais rico do mundo, o Vaticano insiste tanto em preservar e acumular riquezas incontáveis?
Prefiro não deter-me à uma única entidade, estendo tal pergunta à tantas outras ceitas católicas, evangélicas que exploram a fé humana, regando com a água da avareza as rosas espinhentas da ganància hipócrita.
Mas, para não enfocar um único tema, questiono também a nós, pobres mortais. O que entendemos realmente sobre o egoísmo? Será a superfície dos objetos e demais posses? Pois digo que estamos nos entregando à cegueira da demagogia, quando "doamos" algo como caridade - o que é muito triste, confundir "generosidade" com mera obrigação! - e voltamos para a rotina onde escondemos os segredos profissionais, e pessoais próprios e alheios, a fim de entregar a um preço justo e acumular mais conhecimento ou posses intocáveis.
Será herança! Dizem orgulhosamente aqueles que pensam estar honrando a família. Mas eis que estão em constante período de reflexão sobre o merecimento de seus beneficiários. Um passo em falso e logo agarram-se na bóia do poder, que está Ã deriva no oceano egocêntrico de náufragos faraós.
Desiludidos em saber que nada se leva deste mundo, alguns tentam restabelecer-se e adquirir o equilíbrio espiritual suficiente para ao menos alcançar o Elísio, ou reencarnar decentemente. Mas poucos conseguem vislumbrar e alcançar a luz, sem que o fio de Ariadne se rompa, pois o temor em compartilhar ainda é avassalador.
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