Gosto de lembrar-me de coisas do passado, é como se eu me transportasse para um devido lugar ou tempo marcado em minha vida.
Com frequência me vejo brincando na Rua Biquinha do Conselho (não queiram saber a história deste nome, pois até hoje não descobri), a criançada se reunia alí e era aquela farra! Não tinha essa mania de meninas separarem-se de meninos, todos eram amigos e brincavam juntos.
Com carinho me lembro também da juventude, meus primeiros namorados, encontros secretos atrás do muro do ginásio, primeiro baile, primeiro beijo, primeiro amor.
Não creio ter amado alguém à primeira vista, pelo menos não me lembro de ter "descoberto" um grande amor na primeira vez em que o vi. Amar é uma coisa muito complexa, deve haver um certo crescimento antes de um sentimento ser considerado "amor de verdade".
Ao invés de "amor à primeira vista" deve existir aquilo que chamamos de "encantamento à primeira vista", um olha para o outro e se encanta, se derrete, sente um calafrio.
Tive vários namorados por quem senti "encantamento" instantàneo, porém não foi amor. Este veio depois de ser submetido a um árduo processo de convivência, descobrimento mútuo das qualidades e defeitos, aceitação, até chegar à magia do amor.
Nesta era de computadores, o encantamento passa a ser virtual, aquele que se desenrola através de palavras que entram pelos olhos e chegam até o coração. Também aqui não pode e nem jamais será amor à primeira vista pois não há contato direto. Tecla não transmite calor, não tem cheiro, não "fala" . Portanto, quando jovens passam horas em salas virtuais e depois dizem estarem apaixonados não é verdade. Existe apenas a sensação gostosa, uma doce espectativa que a procura de um par transmite e lhes dá a falsa sensação de estar amando. Entretanto, só quem já amou perdidamente sabe que este sentimento é muito profundo para ser transmitido através de teclas. Precisa muito mais, precisa haver contato, encontros, carinhos, beijos e abraços, precisa haver muita paixão.
O amor verdadeiro nasce tal como uma fonte, desenvolve-se num rio e permanece em nossos corações como se fosse um mar.
São válidos os encantamentos à primeira-vista, porém há que ter vários deles até um dia encontrar um, cujo encantamento, passa a ser algo raro e muito especial: o amor.
Raro não, perdoem, o correto é "único".