Saio do carro, num dia frio de final de outono. O coração está apertado, difícil descrever a confusão de sentimentos lutando dentro de mim. Seguro as lágrimas, tento ser forte, abraço a mim mesma. Há pouco
abracei uma coisinha peluda adorável. Uma criaturinha que conquistou muitos corações no período de dois anos. Sinto uma saudade dilacerante, um vazio doído, uma vontade louca de fazer o tempo voltar. Coisas boas não podiam sair da vida da gente, do nada, assim como se nada fosse.
Sinto-me triste. Olho pra cima e vejo lá no alto, na janela, uma figurinha frágil, magoada, surpreendida, assustada, mas tão corajosa, tão valente, tão linda!
É uma imagem morena, de cabelos muito pretos, olhos muito pretos, uma menina na janela, despedindo-se de um pedaço de tempo, que me parece, foi muito bom em sua vida, foi muito bom na nossa vida. Uma convivência maravilhosa, repleta de coisas boas.
Queria muito abraçá-la naquele momento,confortá-la, acarinhá-la. Dizer coisas legais. Torcer juntas, para quem sabe um dia as coisas quebradas se colarem novamente. Isso é possível, isso acontece na vida real.
Mas nada fiz,congelei meus movimentos, assim como a garota. Nos despedimos mudas e imóveis, com dores diferentes, com saudades diferentes, com vontades semelhantes.
Um dia, quando a sensação de profundo vazio for substituida, talvez ainda possamos rir juntas de um sentimentalismo piegas, que pega a todos nós desprevenidos, nos dá rasteiras, nos rouba a sensação de felicidade. E nesse dia vai ser possível viver apenas das boas lembranças, sem sentir dor, nem saudade ruim. Somente lembrando com carinho momentos felizes e buscando repetí-los sempre, porque é disso que todos nós precisamos para ser felizes. É isso que todos nós merecemos.
Linda menina na janela, torço por você, para que em breve (já que só o tempo cura as feridas) voce apareça sorrindo, nesta mesma janela.Sem lágrimas, nem pesar, apenas feliz!
