Usina de Letras
Usina de Letras
24 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 63136 )
Cartas ( 21349)
Contos (13299)
Cordel (10355)
Crônicas (22578)
Discursos (3248)
Ensaios - (10647)
Erótico (13588)
Frases (51619)
Humor (20167)
Infantil (5584)
Infanto Juvenil (4929)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1387)
Poesias (141264)
Redação (3357)
Roteiro de Filme ou Novela (1065)
Teses / Monologos (2442)
Textos Jurídicos (1966)
Textos Religiosos/Sermões (6344)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->O gordinho e a menina de rosa -- 12/01/2001 - 08:32 (Maurício Cintrão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Deixei muitos pedaços por aí. Uso como cola as lembranças que voltam. Com elas, reconstituo minhas andanças. É assim, por exemplo, quando ouço as músicas lentas da minha infància. Imediatamente, fico sem jeito, meio ridículo. Volto a ser aquele menino que ia ganhar coragem para tirar a menina de vestido rosa para dançar, mas que nunca tirou. Tentava, mas não conseguia. Puxa, eu juro, tentava mesmo!

Gastei muitos bailes no Clube Atlético Ypiranga para criar coragem, levantar, seguir, andar determinado na direção da menina de vestido rosa... mas, ali, na hora da verdade, desviava. Eu sempre desviava. Via um ET no salão, um morcego verde na cortina, uma minhoca jogadora de basquete... e fugia. Não sei se a menina de rosa notava. Eu queria tirá-la para dançar. Queria, sim! Só não conseguia. Nunca consegui.

Acho que ela também nunca conseguiu, porque não me lembro de tê-la visto dançando com ninguém. Ela estava lá, sempre, no mesmo lugar, com o mesmo vestido, sentada no mesmo canto, esperando pelo bailarino que não chegou. Era minha parceira, havia de ser, meu Deus, sempre foi. Minha parceira que não foi.

O tempo passou, cresci, mudei de bairro e nunca mais vi a menina de rosa.

Até hoje tenho altos grilos para dançar e já escrevi sobre isso. Só não contei que, apesar dos whiskies quebra-gelo e do vou-que-vou dos embalos de quem vence a inércia, nunca dancei inteiramente. Creio que meu pedaço dançarino ainda vaga lá pelo salão do clube, feito alma penada, vacilante, seguindo em direção à cadeira que já não tem a menina de vestido rosa.

Não sei se outras pessoas já experimentaram isso. Ao ouvir músicas dos tempos das domingueiras, tenho a estranha sensação de visitar um museu e identificar como sendo minhas as peças que pertenceram a alguém de dois ou três séculos atrás. As músicas lentas da meninice me fazem viajar como se houvesse dançado com a menina de rosa, mas nunca dancei.

Porventura, se você for dessa época das domingueiras do Ypiranga e conhecer aquela que já foi a menina do vestido cor de rosa, por favor, não fale de meu medo. Fale apenas que o par estava lá, sim, e a admirava encantado. Diga que ele quase chegou, mas perdeu para o ímpar das circunstàncias. Fale que o menino gordinho do outro lado do salão dançava com ela de coração. Coração bailarino que, ainda hoje, ensaia passos elaborados ao som de The Bee Gees.

Maurício Cintrão
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui