Cordial, corrupto, violento.
Qual o Brasil verdadeiro,
aquele do pensamento?
Confesso que é difícil escrever sobre o Brasil. Gostaria de ser original, dizer que estamos no melhor dos mundos possíveis, uma espécie de paraíso terrestre. Mares e rios piscosos, florestas verdejantes, ouro, prata diamantes, esmeraldas, petróleo aflorando a terra, tantas são as riquezas que não precisamos pagar impostos. Gostaria de dizer que somos cultos, que moramos bem, que temos escolas e lazer, e jornada de trabalho de 35 horas semanais, como os franceses.
Mas nada disso pode continuar a ser repetido. Nossas matas verdejantes continuam a ser abatidas, ouro, prata, diamantes, esmeraldas já foram remetidos para outras bandas, já enfeitam as coroas dos reis de outras terras, o petróleo jorra do fundo da terra com dificuldade e continuaremos plantando cana-de-açúcar por mais quinhentos anos. É a nossa vocação histórica, sermos os fornecedores de matérias-primas para que os impérios globais existam. Por quanto tempo continuaremos nesse papel, nesse ciclo interminável de exploração?
Brasileiro não era, historicamente, nacionalidade, e sim profissão, pois o brasileiro era o português que para cá vinha com o objetivo de enriquecer. E faze-lo rapidamente para voltar à corte, rico e com prestígio. Uma espécie de bucaneiro, um corsário, um empresário audacioso, portanto, que se dedicava à exploração dessas terras, a predação.
Mas, assim como o Brasil é o resultado de uma exploração secular, o seu povo é um sub-produto dessa mesma exploração, o Brasil para onde convergiram subjugadas ou espontaneamente todas as etnias do mundo. E aqui viveram de pó e de esperança, irmanadas em face da exploração brutal e da chibata.
Afinal de contas, para o quê serve um país? Temos muita esperança no nosso Brasil, como terra onde as diferenças étnicas e culturais se atenuam, onde um amálgama de gente de todas as partes do mundo acabará por gerar um povo homogêneo, cordial, prestativo, que ainda dará lições ao mundo. Essa é a minha fantasia sobre o brazilian-way-of-life, que ainda está por ser construído, a partir das pessoas simples dessa terra, quando o espírito da predação desenfreada for, enfim, superado.
