Muito grato pela mensagem, que fala da reforma previdenciária e da comparação a uma jabuticabeira. Li-a com interesse, mas, de alguma forma, decepcionado.
Permita-me estas colocações, que são espontàneas e brotaram em decorrência do provável paradoxo.
Compração é um tropo de palavras; figura de retórica. Para comparar coisas desiguais: eloquência e poder de convencimento.
Normalmente, nas figuras de linguagem, procuram-se coisas semelhantes. Ex.: metáfora, "Iracema, a virgem dos lábios de mel" (José de Alencar). Logicamente, o romancista cearense (criador do anagrama que tirou de AMÉRICA) queria dizer: "os lábios da virgem eram tão doces, que se pareciam com um favo de mel."
Suponho haver abismo entre citação retroaludida e a do texto. Ressalvado o forçamento do orador, isso se explica: a jabuticabeira pode ter fruto azedo, maduro, verde, podre; ter vida curta, média, longa; requerer cuidado (adubo, sais minerais, água, sol, vento); produzir muito, pouco e ser até improdutiva.
A infelicidade entendo estar no domínio das figuras de estilo, que podem ser vistas em qualquer boa gramática. Ora, a reforma previdenciária deveria ser uma coisa vantajosa, salutar, desejável, aceita e benéfica. Então, melhor compará-la a algo indicutivelmente bom.
Ademais, se o dinheiro fosse motivador único, não haveria professores, nem maestros, nem violinistas, nem botànicos, nem uma infinidade de profissionais abnegados, que dedicam a vida aos estudos sem ganhar economicamente o que merecem.
Deus me livre do que, recebendo bem, faz qualquer coisa.
Quem sabe, os palestrantes motivacionais estejam precisando ouvir o professor Reynaldo Polito. Com certeza, aprenderiam muitas coisas: até fazer comprarações.
Por fim, não é de se espantar que o presidente Lula compare a reforma previdenciária a uma jabuticabeira.
Com a estima e o abraço do amigo,
Benedito
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(*) Diogo Mainardi, "Um ponto de vista engraçado", Revista Veja de 1º/10/2003.