" Desgosto ou pesar pelo bem ou felicidade de outrem/ Desejo violento de possuir o bem alheio/ Objeto de inveja."
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira
Quais os valores que movem o progresso do ser humano em termos tecnológicos e sociais? À essa pergunta aparentemente descabida, tenho uma explicação lógica: a tecnologia revoluciona a forma de viver desde a pré-história quando as ferramentas em pedra eram confeccionadas com intenção de melhor desempenho nas funções que o homem deveria executar. Seja construção, alimentação, lazer, entre outras atividades, o aprimoramento das técnicas usadas é sempre constante.
Em decorrência disso, uma organização social é naturalmente estabelecida à medida que são designadas funções a cada faixa etária, sexo, conhecimento, etc. Sendo assim, o descontentamento é previsível em determinadas camadas sociais que se vêem menos favorecidas. Explica-se então, os dois termos aos quais a pergunta fez referência.
Uma resposta coerente é variável a cada período histórico, mas escolhe-se o período da revolução industrial, onde as transformações mais gritantes no pensamento do homem determinam condutas duvidosas e principalmente o cultivo inevitável da segregação social.
O enriquecimento e as novas máquinas eram o motivo de inveja de muitos, e privilégio de poucos. À começar pela questão da mera necessidade de sobrevivência, os operários trabalhavam em regime integral para poderem ao menos comer. Época onde a incompetência começa a ser cada vez mais visada como motivo de exclusão.
Observamos os dias de hoje, eis então a grande avalanche consumista que invade as vidas de tantas pessoas. Agora a incompetência é confundida com a "burrice conformada" , que poderia talvez ser associada à preguiça?! Confusão vernácula à Almodovar estamos nós a esperar a valorização de nosso trabalho suado.
Surpreendentemente, a decadência nos valores para determinar o certo e o errado vem consumindo as raízes da ética e transformando a humanidade em máquinas de consumir que se esconde na pseudo-espiritualidade de que existe "algum lugar melhor", atestando em letras garrafais que "o inferno é aqui."
A trapaça, o jogo ilícito do monopólio, o apadrinhamento acabam com as referências que bravamente haviam resistido à esse mar demagógico chamado: "promoção". Hoje em dia, inveja tem muitas interpretações - nenhuma se justifica - onde o vilão da história é o protegido incompetente que deixa à desejar em suas funções, mas de algum modo escuso, conseguiu tirar o concorrente do cargo que almejava; e o mocinho que perdeu a batalha, que era competente, honesto e digno, mas hoje inveja a comida que o incompetente esbanja. O que é a inveja, num mundo de desigualdades e injustiças? Daqueles oito pecados capitais, temos um pecado relativo, que pode ser maligno ou apenas carente de misericórdia... voltamos então à nove pecados capitais.