O coadjuvante é um sujeito dedicado, trabalhador e até bonitinho. Mas não é o ator principal. É aquele cara que passa pelos piores apuros nos filmes de cowboy, mas, apesar de toda a paparicação, acaba ficando sem a mocinha no final do filme.
Ele também é mocinho, mas não é "aquele" mocinho de olhar perdido de quem enxerga além do horizonte. Esse olhar quem tem é o mocinho titular. O reserva olha o horizonte como qualquer outro que não seja bandido ou índio rebelde.
É incrível porque ele é correto, honesto, ético e nunca sacaneia o cowboy dono da posição. Mas sempre leva a pior. Ou termina morto, ou ganha um canto da cena final para ver o beijo do casal romàntico principal (com ela, justo com ela!), ou segue no fim do filme com alguma caravana rumo a um destino inexpressivo.
Pobre coadjuvante. Pode até ganhar Oscar, mas não está com essa bala toda. Piu-piu e revólver grande quem tem mesmo é o ator principal. Pode até não ser bem dotado, mas que parece que é, parece.
Quando era menino ninguém queria ser o assistente do delegado. Todo mundo era xerife, e de preferência o xerife John Wayne. Macho, bravo, bom de mira e sensível.
Algumas mulheres da minha geração até hoje esperam encontrar um John Wayne desses numa happy hour da vida. Muitos amigos ainda tentam interpretar o papel, mas vivem caindo do cavalo.
Hollywood fez dessas coisas com a gente. Bonzão mesmo é o cara que tem destaque no letreiro de abertura. Não importa se o segundo briga de soco e pontapé e não deixa o chapéu cair. As cenas mais vibrantes, o cavalo mais bonito e a mocinha (ah, a mocinha boazuda!), esses são do galã.
Pensando bem, os casamentos são parecidos com esses filmes de cowboy. Problema é quando duram muito e os roteiristas não têm talento para inovar as falas.
Os adoráveis galãs e mocinhas do princípio, vão envelhecendo, perdendo o charme, a paciência e, especialmente, o encantamento.
Viramos todos coadjuvantes de nós mesmos. E transformamos nosso dia-a-dia em um filme B, preto e branco, chato.
O problema é que nem sempre dá prá morrer com glória no final, ou assistir heroicamente ao beijo de outro na cena final, ou encontrar uma caravana que nos aceite. Ó, vida!