Ela estava à beira da morte. Resolveu contar um segredo que guardou por mais de sessenta anos.
- Lá pelos meus quinze aninhos apareceu em nossa paróquia um jovem padre
muito bonito e simpático. Eu ia à missa todos os domingos e fiquei perdidamente apaixonada por ele.
- E ele sabia dos seus sentimentos? - perguntou seu Godofredo, com quem a hoje
senhora freira se dava muito bem.
- Não, ele não podia ficar sabendo. Eu então tive uma idéia inusitada,
decidi ser freira.
- Meus pais não se opuseram, pois eram católicos ferrenhos e nunca desconfiaram
da minha decisão repentina.
- E daí? - perguntou seu Godofredo, nervoso.
- Estudei bastante para me tornar freira rapidamente com a intenção de no
momento oportuno me transferir para a paróquia em que ele estivesse trabalhando. Lá eu iria ver o que poderia acontecer. Tornei-me freira, numa linda cerimónia em que meus pais participaram com a maior alegria e orgulho. Alguns dias depois li uma manchete no jornal que me arrasou.
Respirou meio fraca e, triste, continuou:
- "Padre Justiniano tem relações libidinosas com dois meninos de sua paróquia e é
expulso da Igreja". Desse dia em diante passei a amar com mais afinco Aquele que passou a mudar a minha vida, meu querido Deus. Rezo até hoje pelo arrependimento do Padre e espero que ele seja feliz no rumo que tomou. Seu Godofredo, desde que conheci o senhor e sua família, rezo para que continuem em paz e nas graças de Deus. Hoje eu vou ao encontro Dele e espero que Ele tenha me perdoado e me aceite junto a Ele.
No rosto de seu Godofredo, homem forte, porém com coração bondoso, correu uma lágrima, e ele só conseguiu dizer:
- Assim seja. Vá com Deus!