Há cerca de 100 anos Machado de Assis terminava um soneto com o verso "mudaria o Natal ou mudei eu ?" . Imagine-se o que se poderia escrever 100 anos depois... Neste último Natal do século XX, quem já passou dos sessenta ou setenta, talvez seja aconselhado mais a recordar os natais passados do que a se preparar para vivenciar este de forma marcante e especial. Salvo se acontecer um milagre (e milagres podem acontecer), pelo retrospecto dos últimos anos podemos dizer que a época natalina parece não ser a que todos sonham. Assim , partiremos para aquelas lembranças fugidias de "many, many years ago"...
E da infància querida , " que os anos não trazem mais". Cada um em suas recordações indeléveis, se lembrará daquela expectativa ansiosa de brinquedos e presentes que o Menino Jesus, S. Nicoláu ou Papai Noel lhes concederiam na noite santa de 24 para 25 de dezembro.! Doces, comilanças, nem tanto, mas brinquedos - de preferência diferentes e extraordinários -, isso era o máximo! Depois, depois, o encanto foi desaparecendo , crianças tornando-se adolescentes e adultos e estes envelhecendo (mesmo contra a vontade - ou não tomando conhecimento do fato -)...
Então, os natais passaram a ser insípidos, minados por questiúnculas religiosas, tudo porque reflexões sobre as razões das festividades natalinas vieram à tona. Entre outras controvérsias, criticou-se Papai Noel, muitos relembrando S. Nicolau e o Menino Jesus. Então, acentuou-se, mais o ensinamento cristão: as comemorações deveriam ser para festejar o nascimento de Jesus, o filho de Deus feito homem. Mesmo assim, as divergências ou decepções continuaram porque os humanos mal esclarecidos e carentes de adequada formação e vivência religiosa, se apegaram as festividades exteriores do Natal. Ceias, almoços e jantares, em família, com distribuição de presentes, tornaram-se complicados, eis que pais e mães, sogros e sogras reivindicavam ou repeliam a anfitrionagem.
Este último Natal do século XX não deverá fugir desse roteiro materializado implantado pela filosofia positivista. È uma lástima. Seria intensamente consolador se as famílias cristãs se reunissem no Natal para agradecer a Jesus, em seu presépio, as graças recebidas em suas vidas. Não de forma farisaica, em prece formalista e não vivida. O agradecimento seria de se encontrarem unidos, esposos, pais filhos, ascendentes e descendentes, todos procurando se entenderem, se confraternizarem e dispostos a se ajudarem mutuamente. Mas, o que geralmente acontece ? Acontece que a desunião é grande , por dezena de motivos e o que sobra , quando muito, é um arremedo de confraternização com sorrisos amarelos , palavras e cumprimentos insinceros.
Pena que este último Natal do século XX não seja aquele com o qual sempre sonhamos. Mas , não podemos desanimar e precisamos ter esperança pois, o século XXI integrando um novo milênio, quem sabe traz ínsito em suas entranhas, desconhecidas energias. Quem sabe , desabrochará para o ser humano ,no decurso do século XXI, especialíssimas graças a serem concedidas pela Divina Providência.
Que, na festividade encantadora, mística e poética do seu nascimento, o Menino Jesus nos conceda aquilo que precisamos para melhor seguir a sua doutrina de paz e de amor.
Feliz Natal para todos.