Finalmente, a lacuna foi preenchida e fica mais uma vez provado que quem espera sempre alcança, que quem procura acha e que quem não chora não mama. Numa única história pode-se demonstrar a validade destas verdades do povo e por certo mais uma meia dúzia das quais me esqueço. Escrevam com sugestões.
Esta é uma breve história de paciência e esperança. Como de costume, por enquanto, não revelarei nomes, mas estou certo que um dos meus parcos leitores saberá do que estou falando.
Bom amigo o rapaz, não se pode negar. Gentil, também pode-se dizer. Pois ao deixar a organização onde trabalho, sabedor do meu gosto pela leitura, sem qualquer pressão, chantagem ou indireta, espontaneamente presenteou-me com um belíssimo livro. Motivo de grande satisfação, ser lembrado justamente num momento difícil. O livro com que me brindou foi o quarto volume da série preparada por Elio Gaspari sobre a ditadura a que fomos submetidos há alguns anos.
Ótimo presente, mas fora de ordem. Eu já tinha comprado os dois primeiros e lido com grande interesse e ele, não sei se por descuido ou vingança, me dá o quarto. Assim, sem mais nem mesmo, ignora o terceiro e vai logo ao quarto, sem um levantamento, uma indireta, nada.
E o terceiro?
Fiquei agradecido é claro, um presente tão significativo, vindo de um bom amigo.
Mas e o terceiro?
Aí entram a paciência e a esperança. Coloquei o livro em minhas estante de livros não lidos e não mais falei sobre o tema. Não sei como, consegui me conter e mantive o quarto volume guardado por mais de ano. Ali, na prateleira, o Geisel a me olhar dia após dia. Ainda vivo fosse, sairia da figura e dar-me-ia uma ordem. Insensível, fui passando os demais livros para a frente na lista. Dando carona, no jargão militar. Tinha comigo a certeza de que algum dia, alguém haveria de completar a lacuna.
Sempre me pareceu justo enviar uma requisição ao amigo, solicitando o pronto fornecimento do terceiro volume, mas se não faltou a cara de pau, faltou-me a crença de que o artifício pudesse dar certo. Ele soube da questão e mostrou-se totalmente insensível, disfarçou olhou para o lado e assobiou, assim com cara de não-tenho-nada-a-ver-com-isto.
Pois neste final de semana que passou, minha sogra, sensível à minha tristeza por não poder ler o quarto volume, apressou-se em me presentear com o terceiro. Isto é que é sogra, convenhamos.