Os resultados de uma pesquisa da empresa onde trabalho arranharam meu amor próprio. Em determinado momento, aparecia lá: 80% dos entrevistados situados entre as classes C e D tinham casa própria. Arranhei a garganta e o apresentador sorriu. "A primeira coisa que o pessoal de baixa renda busca realizar é a libertação do aluguel".
"É certo que, em diversos casos, submetem-se aos mais variados riscos para conquistar a casa própria", continuou explicando. "Muitas, aliás, são casas impróprias, casebres em favelas ou em ruas irregulares, sem condições de higiene ou acessos adequados".
O fato é que são, em linhas gerais, casas. E livram os incautos do aluguel. Portanto, casas próprias.
Moro em casa de aluguel. Esse é um fato. Jornalista formado há mais de 20, militando na profissão há tanto tempo quanto, não tenho casa própria. Já fiz várias reflexões a respeito. Por opção, meus investimentos (de energia e dinheiro) foram dirigidos a outros setores. Diversão e conhecimento foram bem servidos. Para os amigos e para a família nunca faltei. Só não sobrou dinheiro para comprar a dita cuja casa própria.
Moramos em um sobrado bem interessante (se não fosse tão velho). Os espaços até bem poderiam ser menores, tendo em vista que ficamos muito pouco por aqui, Ã exceção das crianças que bagunçam boa parte do dia e da noite pela casa toda.
Aliás, nas pesquisas de mercado, nossa cotação até que é alta, pois a casa tem quatro banheiros, quatro quartos (contando o da empregada, onde "mora" meu sogro), duas salas, copa, uma bela cozinha, dois quintais, garagem para os dois veículos (o Fusca não funciona há anos) e uma varandona que serve a dois dos quartos.
Além disso, há cinco televisores, dois dos quais não ligam (mas são cinco, ora!), dois aparelhos de som (ó, expressão antiga), uns seis ou sete aparelhos de rádio, uns três ou quatro gravadores (inoperantes) e dois vídeo cassetes (um perdido para sempre).
Só caímos um pouco na classificação leiteira das pesquisas (A, B, C...) no quesito Cozinha. O fogão de seis bocas está desbocado de duas, o forno é frígido e, pasmem, não temos freezer, só uma geladerona com um congelador razoável. Ah, e tem os dois computadores dos quais falei na outra crónica.