Uma das profissões criadas recentemente é a do passador de churrasco em rodízios. Não, não me refiro ao assador, profissão tão antiga quanto o churrasco. Refiro-me aos brilhantes rapazes que oferecem suas iguarias nas chamadas churrascarias de rodízio, ou algo assim.
Antes que inúmeras cartas de feministas causem um colapso nos serviços de correio, me apresso a registrar que raramente se vê uma moça nesta função. Pra dizer a verdade, eu nunca vi. Estranho isto, talvez fosse melhor encomendar algum estudo sociológico para averiguar as causas do fenómeno. Confesso, que tal empreitada foge à minha capacidade.
Falemos então do assador. Do passador, quero dizer. Seu dia a dia consiste em repetir um roteiro mais ou menos fixo entre a cozinha da churrascaria, as churrasqueiras, e um certo grupo de mesas. Passa na churrasqueira, apanha um espeto e segue oferecendo.
Com licença, aceita picanha?
A cada mesa ele pára, pede licença para interromper e oferece a iguaria da vez.
Cupim com alho?
Este é seu grande momento. Seu objetivo é o de servir. Voltar à cozinha com um espeto ainda cheio de carne é algo inaceitável. Sinal de fracasso. Por isso, há que ter cuidado. Observe a expressão do rapaz quando você diz não. As reações são as mais diversas. Mágoa, tristeza, frustração, para dizer o mínimo. Há casos extremos de passadores que, obrigados a oferecer chuchu com alho, tiveram tamanho insucesso que deixaram a profissão. Fossem nipónicos e o haraquiri seria certo.
Se é necessário dizer não, diga com a expressão de quem diz sim, explique que você ainda está ocupado com a iguaria anterior, ou que seu prato está tão cheio que já não comporta, por enquanto apenas, mais nada. Diga não, mas seja positivo, fale que a vida é boa e que a cenoura defumada que ele está lhe oferecendo está com um aspecto ótimo.
São raros, mas há também os passadores vingativos. Você nega o terceiro pedaço de cupim com alho e ele leva isto para o lado pessoal. Em represália não oferece mais nada. Passa pela sua mesa como se ela não existisse. Felizmente a mágoa não dura muito, e você pode reconquistá-lo se ficar com o olhar fixo no espeto de picanha na próxima vez que ele passar. Faça uma expressão de quem está salivando. Ele vai notar, dará um sorriso de vitória e voltará com um belíssimo espeto de abóbora recheada.