Quando sento em frente ao computador, a postura que assumo é determinante para que haja maior ou menor eficiência (e prazer) no ato de escrever. Há uma forma de sentar muito específica, nada ergonómica, mas absolutamente relaxada. É como se me preparasse para assistir à TV (ou a um filme no Cinema, para parecer mais, como diria, cult).
Hoje, esse fenómeno ficou absolutamente claro. Há muito tempo que eu não escrevia neste micro e, de repente, percebi que não conseguia escrever porque os assentos disponíveis não combinavam com o meu sentador. Sentar em frente ao monitor e manter as costas eretas apresenta certa incompatibilidade com meu processo criativo. Ou fico curvado em direção à tela feito um gorila, ou assumo aquele àngulo de encosto de quem está com o tronco engessado.
Como passo a maior parte do meu tempo no trabalho, acabo escrevendo a maioria dos meus textos por lá mesmo, geralmente no início da manhã. E, lá, o meu cadeirão é nota dez, daqueles de gerente folgado, com rodinha e tudo. Estou de tal forma acostumado com ele que até estranho quando tenho que trabalhar em algum outro micro (ou melhor, com alguma outra cadeira).
Em casa, não há espaço para esses luxos. Tenho que apelar para o improviso. Portanto, tive que encontrar a cadeira ideal para poder escrever. Foi uma busca complexa, porque as alternativas não são muitas. Há dois tipos de cadeira: as boas e as quebradas. Nenhuma delas se encaixava no perfil procurado. Abri o leque de alternativas e, fez-se a luz (ou o assento). A poltrona de vime! Claro, como não havia pensado nisso?
Neste exato momento escrevo este texto deliciado, devidamente refestelado na poltrona de vime com almofadas fofinhas. É uma delícia. Se meu bum-bum fosse mão, eu poderia dizer que caiu feito luva. É a perfeita combinação de cronista folgado, computador lento e poltrona confortável.
É incrível, porque esta poltrona está conosco há mais de 10 anos e eu nem me dei conta de sua utilidade literária. Originalmente, ela foi comprada para ficar ao lado do telefone, para falarmos sentados. Coisa de quem conversa muito ao telefone. Rodou a casa inteira e, agora, não sai mais da frente do computador.
Acredito, até, que o bem-estar identificado com ela, agora, tenha a ver com suas propriedades decorativas originais. Se funcionava bem para as ligações telefónicas, com certeza será ideal para as minhas conversas de letras com vocês. Com o tempo, saberemos se isso é verdade ou não passa daquele encanto com a primeira sessão com o massagista. A gente só vai sentir da dor depois que o efeito do relaxamento passar.