Esse referendo é tão inócuo, que estava me desinteressando em me manifestar. Todavia, não há possibilidade de ficar omisso porque, pelo sim ou pelo não, teremos de votar. Sim e não são vocábulos fundamentais na linguagem humana, indispensáveis em todas as línguas. Dizer "sim" à proibição do comércio das armas é totalmente desnecessário, pois o Estatuto do Desarmamento (Lei federal n. 10826 de 22/12/2003) estabeleceu tão rigorosas exigências para aquisições que, no país todo, desde a sua vigência, menos de 2.000 armas foram comercializadas, num universo de cerca de 20 milhões. Então, capciosamente, a pergunta vai mais fundo e pode significar que o cidadão renuncia ao seu fundamental e inalienável direito à legítima defesa que, por consequência, passaria a ser estatizado.
O voto é manifestação livre, portanto, devemos nos guiar exclusivamente pela consciência. Aliás, é o que diz ao final, o comunicado da CNBB, inobstante recomende o voto pelo "sim". Há argumentos favoráveis e contrários para ambas as partes. Daria para se escrever monografia sobre o tema, analisando a dupla e contraditória argumentação. Lembro-me então dos pontos controvertidos do Direito e da necessidade, muitas vezes, de se consultar a opinião de consagrados Mestres. Aí, quando se encomenda o parecer, o jurista famoso, diz a anedota, indaga ao contratante: afinal, você quer que me posicione contra ou a favor? Portanto, o posicionamento pessoal depende do próprio interesse, que pode ser simples convicção ou simpatia, como aquela pela qual se escolhe o time de futebol para torcer. A propaganda do referendo pela televisão, que não foi cansativa, apesar de repetitiva, certamente ajudará o eleitor indeciso a formar a própria convicção.
O sim e o não integram a vivência do homem, podem e devem ser usados na plena manifestação da racionalidade. Já no Paraíso, a ordem de Deus foi para que o homem "não" comesse o fruto da árvore da ciência do bem e do mal. As Tábuas da Lei, entregues a Moisés, que viriam a constituir o Decálogo estão repletas de proibições: não matar, não pecar contra a castidade, não furtar, não levantar falso testemunho, não desejar a mulher do próximo, não cobiçar as coisas alheias. Todavia, na Redenção da Humanidade, Maria nos salvou pronunciando o seu imprescindível "sim" (faça-se em mim segundo a Vossa vontade). Se nos Evangelhos, pesquisarmos onde Jesus diz "não", encontraremos muitas passagens: não tentarás ao Senhor teu Deus, não restará pedra sobre pedra (referindo-se a Jerusalém), não julgueis e não sereis julgados e assim por diante. Quanto ao "sim" aparecerá naquela passagem que o leproso pergunta a Jesus : "Senhor, se quiserdes, podeis me curar" e Jesus responde : "Quero, fica são." Noutra passagem, Jesus pergunta ao paralítico: "Queres ficar são?" Com a resposta positiva, Jesus ordena ao paralítico: toma seu leito e ande.
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