Na pequena rua no interior do Estado do Rio em que passei os primeiros anos de minha vida, no início dos anos 70, haviam muitos meninos. Quase todos muito pobres. Me lembro de alguns deles, o Zezinho, Carlinhos e Rubem.
Apesar da pobreza fazer parte do cotidiano, nós garotos não estávamos nem aí para ela. Brincávamos como se nada acontecesse. A rua era pequena, mas aos olhos das crianças, era enorme.
A maioria das casas eram muito simples, mas algumas eram melhores e os moradores destas eram chamados de "ricos" pelos outros. Daí facilmente se vê que o conceito de riqueza e pobreza varia de acordo com o meio ambiente em que se vive.
Dentre as brincadeiras favoritas estava a bola-de-gude, o pique, o queimado, o pião e, preferida por todos, a "pipa", mas conhecida como papagaio em outras regiões. Como eu era o menor dos meninos da rua, me limitava a ficar olhando a maioria das brincadeiras, mas dificilmente era vencido na bola-de-gude.
Ficávamos livres o dia inteiro e no final da tarde, aos gritos, éramos convocados a voltar para os nossos lares. Não tínhamos o conforto nem a tecnologia que os meninos de hoje tem, mas as brincadeiras eram na rua, tínhamos a liberdade e a imaginação como brinquedos favoritos.
A violência do dia-a-dia impede que nossas crianças possam desfrutar de tais maravilhas. É um mal irreversível que degrada progressivamente a nossa sociedade.