Aplicaram a pena de morte a uma pessoa viva, indefesa, não acusada de qualquer crime ou pecado. A crueldade foi imensa e levantou ondas de protesto em todo o mundo. Não se punha em dúvida a morte cerebral e a vida apenas vegetativa da sofrida Terri. Ali, no leito do hospital, estava um corpo que não se encontrava totalmente inerte, porém, que vivera duas dezenas de anos com pleno vigor. Jamais poderia ser abandonado, relegado a aguardar a morte, sem a presença dos pais e de outros entes queridos, e friamente privado de alimentação parenteral e cuidados médicos (embora tidos já como desnecessários). Lastima-se que leis dos Estados Unidas priorizem a curatela a favor do marido, contra a vontade dos pais, mormente em situações dúbias e controvertidas como essa da desditosa Terri Schiavo.
Levantou-se mais uma vez o problema da eutanásia. Esta civilização que prima não só para revolucionar usos e costumes tradicionais, procura violentamente exterminar o cristianismo. O aborto é tema candente que os terráqueos, avassaladoramente progressistas, querem legitimar, assim como a eutanásia, as uniões livres, casamentos de homossexuais, uso de embriões et caterva. Todos esses temas são passíveis de discussões e muitos já se encontram em debate desde longa data. Há, ao menos aparentemente, cortesia dos debatedores que justificam seus pontos de vista, alguns com substanciosa argumentação. Não é nosso propósito esmiuçar detalhes, argumentos pró e contra, nem cabíveis em breve crónica. Pretendemos apenas salientar que, para os criacionistas, especialmente os cristãos, que admitem que somente Deus pode tirar a vida do homem, será terrível contra-senso aceitar a eutanásia. Ao mesmo tempo, é paradoxo cruel. Isso porque a eutanásia envolve o mistério do sofrimento. Todos o querem evitar, porém, passam por ele e cristãmente o devem aceitar, embora não o compreendam e o detestem. Sabemos, de outro lado, que o sofrimento é repleto de valor para a remissão dos pecados e aquisição de méritos espirituais. Como nosso objetivo final é a felicidade, devemos encarar com bons olhos o sofrimento, embora, nesta vida, jamais compreendamos as razões ontológicas da sua existência.
Pelo conhecimento rápido dos informativos concluímos que o ex-marido de Terri Schiavo, Michael Schiavo, deve possuir forte personalidade a ponto de pretender impedir inumação do corpo da ex-esposa, como desejam os pais dela, para cremá-lo. Não estamos julgando, apenas considerando que seria de bastante caridade aceder à vontade dos pais tão contrariados nos momentos finais da sofredora Terri. Salvo e aí está a justificativa final para a cremação do cadáver de Terri: se se trata de satisfazer verdadeiramente expresso e antigo pedido da falecida.
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