É conhecida a frase de Shakespeare, "o mundo é um palco".
De fato, na vida, pouquíssimas vezes somos nós mesmos, autênticos, verdadeiros. Os "contextos", as "circunstàncias" nos transformam em "atores" - até em marionetes -, Ã nossa revelia, na maior parte das vezes.
Exemplos não faltam. No trabalho, temos que exercer o papel de funcionários exemplares: ser competentes, interessados, sérios, etc, etc, mesmo quando sabemos que aquela função não é para nós... Ou, pior, quando achamos que nosso "superior" - que, por sua vez, desempenha o papel de chefe - é menos competente que nós, não sabe identificar e "aproveitar" nossos "talentos", blá, blá, blá. Com os colegas, temos que ser cordiais, diplomáticos. Mesmo que os achemos uns falsos que só querem nos ver pelas costas e que tenhamos vontade de dizer-lhes umas poucas e boas...
Na família, o homem exerce o papel de pai, de provedor, de protetor. Quando, na verdade, muitas vezes é ele quem precisa ser protegido... A mulher, nem se fala! Tem de ser mãe, esposa chata, dona-de-casa e, também, profissional... De preferência, bem-sucedida, loira e com o abdome definido. Ufa!
No amor, acredito, é onde "atuamos" mais. Raramente somos autênticos numa relação. Parece que a autenticidade é inimiga do tesão (será?). "Percebemos" as "expectativas" do parceiro e, aí, fazemos de tudo para atendê-las, nem que, para isso, tenhamos de nos transformar em seres que nem nós próprios reconhecemos - ou um dia imaginamos que nos tornaríamos. Para conquistar quem nos interessa, entramos num jogo esquisito... É tarefa árdua tentar impedir que essa pessoa nos conheça por inteiro, veja o nosso "outro lado", digo, aquele em que não estamos com uma puta lingerie e com cara de puta, e sim com calça jeans, blusão de moletom comprado em hipermercado, calcinha de algodão e sem escovinha.
Isso porque não conseguimos "atuar" para sempre. Ainda mais diante de quem nosso coração dispara. Já disse Wilde: "Se o mundo é um palco, o elenco foi muito mal escolhido". Uma hora a "máscara" cai, sai de cena o "personagem" nosso de cada dia... E é aí que começa a confusão: nosso "amigo" (como nas canções portuguesas medievais) pode achar - com razão - que comprou gato por lebre...
Surge a decepção, logo o desprezo, em seguida o desrespeito e, finalmente, o desamor.
Conselho: para não termos de passar por esta triste sequência, sejamos mais autênticos em nosso dia-a-dia, em nossos relacionamentos. Os (relacionamentos) que não resistirem é que não valiam à pena mesmo (mesmo que abrir mão deles, de principio, nos cause dor). Os que ficarem é porque são - desculpem a repetição e a redundància - verdadeiramente autênticos.
PS 1: Este texto está cheio de aspas porque os significados das palavras não são, necessariamente, autênticos.
PS 2: O momento em que sou mais autêntica é quando escrevo. Ou quando ouço música clássica - especialmente o Réquiem de Mozart. Nestas horas, parece que estamos a sós eu, Deus e a Poesia. E entre nós não cabe "encenação".