Uma coligação marchava firme sob o Sol quente do meio-dia, arriscando, cansados, a letra do hino nacional. Já que quase ninguém sabe o hino nacional de cor, por que os políticos saberiam? A vozes iam se misturando ao barulho da rua e pareciam cantar mais para esquecer o calor que para demonstrar patriotismo.
Um senhor idoso parou ao meu lado. Era muito simpático. Seus olhos azuis vivos e brilhantes o rejuvenesciam e transmitiam a idéia de que aquele homem era muito lúcido, apesar da idade avançada. E de fato o era.
- Ih, minha filha, esses políticos usam de todos os meios para fazer campanha e conseguir votos. E disso eu entendo. Eu já trabalhei muito como cabo eleitoral no interior. Você, minha filha, ainda é um bebê. Eu já vi de tudo nessa vida de política que eu levei durante quarenta anos. Eu fazia campanha para um prefeito que ganhava as eleições e depois não cumpria nada do que prometia. E eu, que tinha feito a campanha dele e dado minha palavra ao povo, ia lá cobrar na casa dele. A gente brigava, mas eu acabava conseguindo que ele mudasse essa ou aquela decisão. E até hoje é assim. Eu
não faço mais campanha para ninguém. Nunca mais. Eu já parei já faz tempo. E se você quer saber já me arrependi de ter trabalhado nisso. Na verdade, poucos deles merecem nossa confiança. Olha, nunca mais, minha filha. Nunca mais.
Eu que até então o escutava atentamente, resolvi participar da conversa:
- E nós que temos que votar não sabemos qual candidato escolher, porque não sabemos se tem alguém realmente capaz de trabalhar em favor do povo.
- Olha, minha filha, aqui na nossa cidade tem um que você pode confiar é o Zé do Depósito. Tenho até o número dele aqui. É um rapaz muito bom, honesto... oh, gente fina mesmo. Por que você não vota nele?
