Uma vez, em classe, um estudante me fez uma pergunta inédita: - Fessora, o que é ser patriota para você?
Respondi o que já tinha pensado antes e muitas vezes - Entre outras atribuições, algumas de contexto panfletário, outras de político (o que não exclui o anterior), outras de partidário(idem), minha idéia de ser patriota é respeitar seu idioma pátrio. É vigiar-se para não corromper o bom uso do vernáculo, é promover suas dimensões de beleza, é aceitar suas normas, é modificar com suas contribuições também mas, sobretudo, é respeitar, embelezar, promover, influenciar, amar e, mais uma vez, respeitar seu idioma nacional. Para mim, isto é ser patriota.
Lembrei desse episódio por conta da leitura que fiz há pouco, da crónica do Adelay Bonolo a respeito de Altinópolis ("No Morro do Forno", Contos). Texto extraordinário, onde o autor utiliza inúmeras possibilidades semànticas e orgànicas da língua portuguesa, construindo um organismo linguístico que prima pela clareza, leveza, por seus paràmetros críticos, levemente acidulados por uma permanente observação paralela ao texto. Nas linhas de Bonolo confluem as marcas de uma óbvia segurança pessoal no manejo do idioma português - se ele faz e refaz seu texto N-vezes não entra no cómputo final - porque o resultado é um espelho de espontaneidade bem dirigida. E essa é levada a um todo informativo, num equilíbrio textual entre o descritivo, o reflexivo e o pragmatismo da uma linguagem muito bem calibrada. Ele sabe extrair o sumo do idioma português.
Por essas e muitas outras razões, digo que li, gostei e recomendo esse texto de Adelay Bonolo. Um excelente escritor, um patriota.
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Érica Eye