Estou desanimado. Desculpem, mas isso à s vezes acontece. É coisa de cronista amador que emperra diante do tédio. Nem posso dizer que tenho motivos para emperrar. O dia foi bom, os leitores são legais e até mandam mensagens muito simpáticas, mas não arranjo inspiração nesta noite calorenta.
Você vai dizer: ora, que bobagem! Há tantos assuntos que podem dar tema para cronicas! Fale mais da sua avó, continue com aquelas histórias da infància, diga um pouco mais a respeito do seu trabalho, enfim, ora pílulas, se vire. Não comece a se achar importante demais demonstrando os primeiros sinais de frescura. Virou artista, quem diria!
Opa! Frescura não!
Aceito que pode haver um certo ar esnobe quando afirmo que falta inspiração. Mas não estou esnobando, não. É só impressão. Tenho tanto prazer em escrever que não daria para esnobar. Porque escrevo cronicas para conversar com quem não conheço. É como se estivesse participando daquele projeto que emite sinais de rádio Universo afora em busca de contato com extraterrestres.
Calma! Calma! Não estou chamando meus leitores de Ets. É certo que, eventualmente, pousam em minha caixa de e-mails alguns OVNIs. Nada que provoque interesse da NASA, porém. Tirando isso, meus leitores são extra legais e muito terrestres.
É que escrevo para abrir canais de comunicação. No fundo, no fundo, quando faço cronicas para você ler, emito sinais para dentro de meu universo pessoal.
Isso! É assim que funciona!
Enquanto escrevo, promovo um ping-pong com intra-galático. Vou descobrindo leitores à medida que escrevo e, simultaneamente, vou reconhecendo, relembrando e até descobrindo pedaços da minha vida que estavam guardados nas nebulosas do inconsciente.
É gostoso descobrir a mim mesmo. Mais gostoso ainda fazer isso em público. Espero que não inventem leitura de cronicas com retorno de som. Eu não suportaria ouvir vaias. Especialmente em um momento como este em que eu ping, ping, ping e não vem nenhum pong nesse tênis de mesa em càmera lenta.
Em geral, não ponga quando mais preciso do pong. Aprendi que não adianta insistir, porque, é só esquecer da jogada e, pong, volta uma bolada na cabeça. A inspiração é assim mesmo.
O Carl Sagan deve ter encontrado uma fórmula qualquer para conviver com essa questão, porque ele jogava ping-pong com Andrómeda e Netuno e nunca fiquei sabendo que tivesse sido vaiado pelas estrelas. Ao contrário, até conseguiu fazer Contato. Uma coisa meio estranha, aliás. De acordo com ele e a sua pesquisadora lindinha de olhos claros, vestida de Jodie Foster, a prova da inteligência extraterrestre é a exaustão da fórmula de Pi.
Devo apresentar algum tipo de incompatibilidade de raquetes com o universo, porque, outro dia, em um ato de fúria, joguei a calculadora na parede e a desgraçada não teve a mínima compaixão em apitar: pi-pi-pi-pi. A tese de Carl Sagan é que há um círculo perfeito no final da fórmula de Pi. Será que a calculadora emitia alguma mensagem matemática?