Apareceu-me, um dia, uma candidata ao cargo de "auxiliar do lar". Fiz entrevista com ela e até gostei do seu jeito. A informação que me trouxe era apenas um número de telefone ( era de seu ex-emprego, de onde me disseram que ela era de confiança) . Como eu estava precisando com urgência, porque com quatro crianças pequenas e trabalhando fora, eu não podia ser muito exigente. Ela veio morar comigo, pois não tinha família. Tudo estava correndo normal. Ela veio magrinha e notei que engordava, visivelmente, a cada dia. Um dia, resolvi conversar com ela mais seriamente, para que pudesse ajudá-la melhor. Ela era muito calada e desconversava. Dei algumas dicas e nada. Tive que ir direto ao assunto, mas ela negou. Percebi, então, que ela queria caminhar sozinha e respeitei seu direito ao silêncio. Fiquei, entretanto, de prontidão para qualquer emergência. Alguns meses se passaram e, um dia, ela me disse que iria visitar a tia que morava na cidade mesmo. Só que ela não voltou. Um dia, dois e nada da Maria do Carmo aparecer. Fiquei preocupada e sem pista de achá-la. Uns 20 dias depois, já eram umas duas horas da madrugada, acordei com batidas fortes na janela que dava para a rua. Lá estava Maria do Carmo com uma criança embrulhadinha nos mantos, dizendo que a menina estava mal. Olhos fechados, bem amarelada, acho mesmo que já sem vida. Minha primeira reação foi correr com a menina e batizá-la na pia do banheiro. Seu nome era Luciana. Levamos depois aquele serzinho para o hospital, só para a mãe ouvir do médico de plantão o veredicto final.