Não tenho nada contra quem elabora ou acredita em estatísticas. Reconheço que, através delas, podemos mudar os rumos da política, da economia e até mesmo da vida pessoal. Foi através de um levantamento estatístico que descobri que, toda vez que tomo até duas cervejas com os amigos, volto para casa numa boa e não brigo com a patroa. Entre duas e quatro, me sinto afetado e parto para a briga por motivos frívolos. A partir da quinta, acho que nem devia ter casado e vou dormir sem cumprir o compromisso sexual. Dessa forma, acredito em estatísticas sim. "Com um olho no peixe fritando, e com o outro no gato do lado".
Enquetes, por exemplo, são uma armadilha para os leigos em pesquisa. "Brasileiro tem preferência pelas morenas" - estampa a página inicial de um famoso site. "Peraí?" - pergunto-me. Uma estatística nada metodológica que fiz recentemente, apontou para uma predominància esmagadora de modelos loiras nos comerciais de TV. Coisa de trinta pontos percentuais de vantagem! Se a preferência brasileira fosse decididamente pela mulatisse da mulherada, será que os intervalos comerciais teriam tamanha discrepància? Essa eu não engulo...
Outro fenómeno interessante é o comportamento da população comum que se diz nunca ter sido entrevistada por pesquisadores, exceto no senso. E ainda assim para afirmar a posse de eletrodomésticos que não tem, por puro orgulho.
- Mas onde está o seu aspirador de pó? - pergunta o entrevistador.
- Está na assistência técnica - afirma, convicta, a dona de casa da periferia.
Clima de satisfação na empresa é outro indicador de coçar os cornos. O que você acha do seu chefe: ele é ruim, regular, bom ou ótimo? É bem provável que o chefe democrático, acessível, conciliador e benevolente receba uma nota inferior à do tirano. Explica-se: o tirano não dá margem a críticas, ainda que as respostas do questionário tenham sido tidas como confidenciais.
Intrigante também é o fator média. Um amigo definiu bem o seu significado. "O brasileiro come, em média, cinco quilos de proteínas por mês. Eu como oito; minha empregada come dois e, na média nacional, dá cinco.Bela vantagem para ela..." É por isso que tenho um pé atrás com estatísticas, mesmo respeitando os institutos e as técnicas que são arduamente discutidas pelos profissionais da área.
O outro lado da moeda são as estatísticas alarmantes, que nos deixam de cabelo em pé mas que não nos afetam. As que dizem respeito ao fumo normalmente são mais catastróficas e polêmicas. Fumo desde os dezesseis anos de idade, não exerço atividade física e, ainda por cima, não tenho a mínima intenção de parar. Pode vir qualquer onda antitabagista que eu não paro. E diversos órgãos respeitáveis divulgam estatísticas que atribuem ao fumo a causa mortis de metade da população mundial. Creio na Ciência. Em Deus também. Acho que é por isso que continuo fumando. Como posso acreditar que a data do meu funeral é Deus quem escolhe e que a nicotina do meu pulmão vai determinar o dia da minha morte ao mesmo tempo?