Para mim ainda é muito doloroso falar sobre flores. Digamos tenha sofrido grande decepção ou sido abalada por trauma extraordinário. Não quero mais discutir este assunto. Caso encerrado.
Voltando à s flores. Vejo-as como mulheres, em suas múltiplas facetas e comportamentos. Tomemos a mim, como exemplo:
Sou Mulher Flor, sensível dos pés a cabeça, com nervos em completa exposição.
No passado distante fui deflorada e sofrida. Tentei o suicídio, quase fui estuprada e alguém muito querido tirou a própria vida, por me amar demais. Carreguei e carrego muitas culpas. É como se fossem pedras que enfio em um saco e arrasto pela vida - minhas eternas companheiras. Às vezes, penso ter-me acostumado a tanto peso. Nem as sinto. Mas elas estão lá, sempre presentes, lembrando-me:
- Estamos aqui!
Na tentativa de me penitenciar dos pecados aviltei-me ao máximo descendo à sarjeta; perdi a conta dos chutes e cusparadas. Tornei-me Flor Obscena. Nem desconfiei que antes, muito antes, já era Flor Masoquista.
Sempre senti atração especial por tudo aquilo que a sociedade convencionou chamar de "baixo" ou "errado". Gosto de quebrar tabus e infringir normas, transgredir (está na moda, nos dias de hoje).
Sou Flor Maldita, despudorada e melancólica, escrava/rainha do pàntano onde vicejam luxúria, perfídia e falsidade.
Matei meus filhos e hoje, para mitigar o remorso e diminuir a solidão, revivi minha cria preferida (que seus irmãos me perdoem, se puderem), minha flor menina que dorme serena numa jarra de cristal. E assim, sou Flor Mãe.
Tantas mulheres, tantos pecados, tantos sonhos. Tantas flores.
31/10/03
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