Foram. No percurso, Erissandra claudicou:
- Luzia, toma o dinheiro. Derby. Eu fico na esquina, te espero na esquina. Êta, esse calo...
- Erissandra, e não foi isso que eu te disse, mulher. Eu ficava na fila e tu...
- Vai logo, puta que pariu, vai na frente que eu vou atrás. Êta calo da gota serena pra doer.
Foi só o tempo de tirar o tampo falso do tamanco e puxar os dez "dolinhas" escondidos.
O pacote estava bem enroladinho com papel de caderno de escola. Colocou no soutien.
Volta Luzia. - Era Derby normal ou light?
- Comprou?
- Comprei.
- Tanto faz. Luzia?
- Oi?
- Tá prá tu botar essa besteira dentro do soutien?
- Que diabo é isso?
- Lá dentro eu te explico. Coisa de reza, pra benzer.Um pacotinho de arruda mastigada. Aqui o que mais dá é olhado.
- Oi? E tu não dissesse que o lugar era joia?
- Luzia, mulher, presta atenção na fila. Tu estás embaçando demais na minha.
Pra resumir o caso, longo demais, Luzia ainda hoje está no pavilhão das sumariadas. Só Deus sabe quando vai ter audiência.
Uns dizem que vai dar mais de quatro anos de cadeia.
Mas tudo depende da vontade do juiz, é o que dizem. Dizem também que sendo dez "dola" de maconha, pode ser que ela pegue o artigo 16. Mas tem gente dizendo que vai dar mesmo é artigo 12.
Crime hediondo. Ainda bem que Erissandra está cuidando das crianças.
-Tudo difícil demais, pra acontecer assim, sem ninguém estar preparado e quem é que está preparado pra viver na cadeia ainda mais sem culpa de nada, que Deus é minha testemunha?
- Agora, quer saber o pior de tudo? É a papa, no café da manhã. A papa é hedionda.