Em frente a minha casa, no Conjunto Sol Nascente, tem um boxe da Polícia Comunitária e ao lado um terreno devoluto, onde colocaram duas traves improvisadas para jogarem futebol, o que é totalmente desnecessário, visto que a cinquenta metros existem três campos oficiais, muito bem equipados.
Mas até aí, tudo bem, não fossem as partidas de futebol acompanhadas, constantemente e aos berros, de palavrões os mais sujos possíveis. Porr..., virou vírgula; Vai tomar no ..., é ordem dada a cada jogada errada; e Filho da ..., é elogio dado, sempre que há uma botinada. Como os mal-educados são uns "tremendos perna-de-pau", imagine a sinfonia horrenda de palavrões que somos obrigados a ouvir; eu, minha esposa e três menores, incluindo uma menina de 11 anos.
Os xingamentos são tantos, que à s vezes um palavrão é entrecortado por outro, em tom ainda mais alto, gerando um terceiro ainda mais esdrúxulo. Quem não vê o que eles estão fazendo, pensa logo que é um concurso de Xingação. E tudo isso bem ao lado de um Posto Policial.
Quando este recital de aspereza e imoralidades começa, tenho que trancar minha filha dentro da casa e fechar portas e janelas, na tentativa vã de eximi-la passar por este constrangimento, pois somos muito bem-educados e não costumamos usar deste linguajar em nossa residência. Além de ter meus tímpanos estuprados ainda sou prejudicado financeiramente, pois tenho que acender làmpadas em pleno dia e ventiladores, por causa do abafado calor. O agravante é que nenhum desses grosseiros, são moradores da minha rua.
Pensa que acabou? Não! Agora vem o pior, o verdadeiro motivo desta crónica-desabafo. Quando telefono para a Polícia Comunitária; aquela que está bem ao lado do campo improvisado; sou tratado com desprezo e ironia. Além de não atenderem à s minhas reclamações ainda debocham.
Eu mesmo, correndo todos os riscos físicos, terminei com o "Xingabol". Primeiro, pedindo; depois reclamando; exigindo; brigando e por fim expulsando, na marra, na cara e na coragem, os xingadores, sem nenhuma ajuda dos pretensos defensores da Lei. Consegui, depois de muitos aborrecimentos e todos os calmantes possíveis e imaginários, acabar com o futebol de palavrões nos dias úteis.
Mal se passaram 15 dias de sossego e tranquilidade e, eis que numa manhã de sábado, sou violentamente acordado por uma enxurrada de palavras de baixo calão, desta vez proferidas por um tom ainda mais grave e vigoroso. Do portão pude identificar que todos os xingadores eram desconhecidos, ao contrário dos palavrões proferidos, que eram bastante conhecidos, ou seja, os mesmos.
Quando telefonei para o boxe da Polícia Comunitária para reclamar, fui rechaçado agressivamente pelo soldado que me atendeu, dizendo que eu era muito chato e que já os estava irritando com minhas "queixinhas", e que não mandaria parar futebol nenhum, pois quem estaria jogando eram colegas de farda, que estavam comemorando a despedida de um Sargento e bateu com o telefone na "minha cara".
Imediatamente telefonei para o Comando Geral, aonde fui muito bem atendido, que comprometeu-se em enviar uma viatura, que chegou logo que possível e depois de ouvir minhas reclamações e atestar a veracidade de minhas queixas, encerrou a partida.
Daí em frente, ao invés de melhorar, piorou, pois os componentes do Posto Policial, tomaram-me como inimigo, já que toda a vez que começam a jogar, os palavrões são inevitáveis e a minha reclamação ao Comando Geral, também.
Já fiz queixa por escrito ao Comando Geral, a EMURB, a Prefeitura e o jogo ainda continua. Da última vez, segunda-feira passada, um soldado me desafiou, dizendo que se eu era homem que fosse lá retirar as traves. Fato que não aconteceu, por sorte minha, porque meus filhos se agarram à s minhas pernas e não me deixaram sair de casa.
Será que eu terei que morrer, como aconteceu com tantos outros cidadãos honestos e trabalhadores, pelas mãos de maus policiais, por ter o atrevimento de exigir meus direitos legais?
E logo eu, que saí do Rio de Janeiro para fugir da violência, e escolhi "a dedo", Aracaju, justamente pela simpatia do seu povo e a qualidade de vida, morte vou encontrar, sendo vítima daqueles que deveriam defender-me?