Sou péssimo em números. Talvez por isso não calcule riscos. Entro nos maiores desafios sem avaliar resultados. Às vezes me quebro, Ã s vezes me completo.
Dizem que essa é uma qualidade. Há momentos em que duvido. O balanço tem mostrado mais ganhos do que perdas. Quer dizer, balanço feito por quem não sabe calcular direito.
Minha dificuldade para dançar pode ter origem nessa incompatibilidade com os cálculos. Dois prá lá, dois prá cá e eu tropeço na parceira. Tudo bem, tudo bem, você vai dizer que a dança não exige cálculos elaborados. Explique isso para meus pés!
Os seres humanos têm problemas de comunicação entre cérebro e pés. Com o tempo, resolvem essa deficiência com exercício, força de vontade e muitos tombos. Aprende-se a ficar em pé, a andar e, na sequência, a correr e, pouco tempo depois, a dançar. Fui jubilado nessa última fase. Só danço sem música.
Meu problema de comunicação entre cérebro e pés é grave. Não sei o que pode ter acontecido de errado em minha formação. O fato é que não houve jeito de destravar. Primas e amigas tentaram toda a sorte de recursos. Esforços despendidos em vão. As seguidas tábuas nos bailes da adolescência fossilizaram a minha a penitência dançarina.
Com o passar dos anos, a gente aprende a desenvolver alguns mecanismos artificiais para administrar esse tipo de deficiência. Eu, por exemplo, bebo um whisky e amoleço. Logo, danço. O risco de tropeçar nos pés da parceira aumenta, mas, vou no embalo. Como sou ruim de conta, não calculo o perigo e ficam elas por elas.