Meus filhos fazem questão de relembrar minha condição pré-histórica. A começar pelas campanhas para que eu não fume mais o velho e bom Continental. Isso mesmo, eu fumo Continental, preferência nacional. Jurássico, né? Pois é, eles também acham isso.
- Pai, você vai morrer.
- Claro, filha, um dia eu vou morrer.
- Não! Um dia, não, pai! Você vai morrer logo!
- Pára com isso filha, vira essa boca prá lá. Por que você acha que eu vou morrer assim, logo?
- Você fuma e quem fuma morre mais cedo.
É assim que eles me tratam, sem respeitar meus pequenos vícios, sem direito a argumentação. Claro que eu não tenho argumento nenhum contra o discurso deles. Mas poderiam dar uma chance de resposta. Nada disso! Eles são radicais.
- E pensar que eu vou ficar chorando... , já ouvi um dos pequenos falar.
É muita chantagem emocional. Não há pai que resista. Fumo como se estivesse comprando uma passagem para fugir da família para sempre. É cruel, é malvado, é desumano. O problema é que sou sem vergonha e continuo fumando.
Mas não é só isso, não.
Outro dia, meu filho do meio viu que eu cantarolava Rolling Stones acompanhando um filme da TV a cabo. Ficou espantado e perguntou, como se estivesse na frente de D. Pedro I:
- Essa música é da sua época, pai?
Tudo bem! Tudo bem! Até me divirto com isso.
Afinal, assisti a Patrulheiros Toddy, Vigilante Rodoviário, Combate, Brigada 8, Homem Foguete, Lanceiros de Bengala, Rin-Tin-Tin, O Menino do Circo... Ihhhhh! Se for lembrar dessas séries todas, vão dizer que estou inventando. Porque muita gente da minha idade afirma não ter a mínima idéia do que estou falando.
Hipocrisia, pura hipocrisia.
É só cutucar um pouquinho e logo alguém lembra da música de Bonanza, das calças Rancheiro e Farwest, do casaco Calhambeque, do Conga, dos bonequinhos do Thunderbird e, pasmem, do Sérgio Reis cantando "Meu coração não é de papel, oh, não!" na época da Jovem Guarda. Isso sem contar, é claro, os solos de Manito ao saxofone, o Salão da Criança e as figurinhas Armas e Bandeiras.