Quem pensa que vamos escrever a respeito do preço da carne, abordar problemas de abastecimento, de situações que poderiam torná-la imprópria para o consumo ou tecer considerações sobre aquela absurda carne de Chernobyl, não prossiga na leitura. A velha carne a que pretendemos nos referir é a nossa própria pessoa, "o animal racional" de Aristóteles, cuja domesticação exige trabalho de toda uma vida, porque as Sagradas Escrituras esclarecem: somente será salvo quem perseverar até o fim. Santo Ignácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, em seus exercícios espirituais - outrora muito difundidos - , indica os principais inimigos do homem: o demónio, o mundo e a carne.
Discorremos pois, sobre essa velha carne que, através dos tempos, pode se tornar empecilho na caminhada ascética da perfectibilidade porque - segundo o ensinamento do Mestre - , devemos procurar ser perfeitos como nosso "Pai Celestial é perfeito". Ninguém duvida que a imoralidade nos dias atuais é digna de espanto, não apresenta sinais de regressão, nem se cogita do seu saneamento nos moldes dispensados, por exemplo, para a Ecologia. Isso não significa, porém, que antigamente ou em épocas passadas a sociedade fosse melhor, inexistindo, indecências e corrupção. As coisas devem ser colocadas em seus devidos lugares (est modus in rebus). Acreditamos que a implosão sensual ocorrida na atualidade (todas as formas de comportamento erótico, lascivo, etc.) é decorrência natural da fermentação interna do mal (sempre existente no íntimo do homem), das repressões, frustrações, etc., divulgadas por Freud e discípulos. Hoje, tais situações se encontram liberadas pela sociedade que - por outro lado -, não consegue frear essa poderosa máquina carnal vertiginosamente encaminhada para os desfiladeiros do mundo.
Quem nos ajudará a abandonar a perigosa viagem nos planos inclinados da existência? Sem dúvida é a religião, elo entre o homem e Deus, que todos têm, mas apenas casualmente a praticam. Por isso mesmo, pela carência ou deficiência desta praticabilidade, a problemática existencial torna-se insolúvel. Surgem as angústias e a impossibilidade de solver as crises geram o desànimo e a desesperança em dias melhores.
Nunca deveríamos confiar exclusivamente em presidentes, congressos, partidos políticos economistas, eventuais "salvadores da Pátria", etc. Se temos religião, se temos fé em Deus (não nos esqueçamos que a imensa população brasileira é cristã), precisamos reagir, abandonando posturas farisaicas e partindo para viver autenticamente, observando ao menos - a lei divina, inculcada em nossas mentes e corações. Essa autenticidade - é bom clarificar bem a expressão - implica renunciar aos velhos hábitos da mentira, insinceridade, etc. e apressar o reencontro com a probidade, a dignidade, a própria verdade.