Não existem heróis medíocres. Ou eles são bons para caramba, ou são fenómenos eventuais, que despontam do nada, agem heroicamente e somem no obscuro horizonte dos anónimos.
Não tenho notícia de nenhum herói medíocre.
Está bem que publicidade, marketing e mídia não combinam com o comum, mas o fato é que heróis medíocres não viram notícia, nem vendem sabão em pó.
Um herói pode até cair na desgraça pública, porque foi herói e depois decepcionou todo mundo. Mas aí não se trata de um herói medíocre, mas de um herói que não soube ser herói de acordo com o manual.
Medíocres não são heróis. Foi assim que me ensinaram. Medíocres estão na média, são tão simples que enjoam. Você pode encontrar medíocres em qualquer lugar.
Eu não admito, você não admite, o povo não quer nem saber de qualquer um virando herói. Admitir isso é largar o sonho!
Os heróis têm porte de heróis, recendem a perfume de heróis, brilham como heróis. Imagine um herói jogando buraco ou xingando outro motorista porque
foi fechado.
Não. Isso é difícil de imaginar.
Os heróis são perfeitos. Todos nós sabemos disso. Fomos treinados a identificar à primeira vista os heróis hollywoodianos, os heróis dos quadrinhos.
Não tenho a mínima idéia do que faria se encontrasse o Homem Aranha empoleirado na janela da minha casa. Muito menos se visse o Super Homem
voando acima da Avenida Paulista. Mas que saberia que eles são heróis, ah, isso sim!
Passado o susto, teria assunto para falar aos amigos. Quer dizer... se falasse, achariam que sou louco, porque esses heróis não existem de
verdade... bem... acho que não contaria a ninguém.
Passado o susto, o melhor seria ficar bem quietinho.
Porque conhecemos o que são atos heróicos dos heróis dos quadrinhos ou filmes e, de alguma forma, tentamos fazer no dia-a-dia medíocre coisas parecidas com o que eles fazem em tiras ou longas-metragens.
Mas é frustrante porque é difícil imitá-los.
No fundo, sabemos que somos todos medíocres e que heróis desse jeito não existem. Mas por algum desses mistérios da natureza humana, preferimos
acreditar que, um dia, seremos heróis. E por acreditarmos nisso, deixamos de confiar na idéia de que heroísmo é errar e corrigir. Errar, corrigir e continuar vivendo, muitas vezes com a
vergonha, com o medo e com a incerteza de ser alguém que errou e continua vivendo.
Mas isso é comum e não está nos quadrinhos. Isso não tem a mínima graça.
