Abre os olhos, são 06:00, marca o relógio na parede, fita o teto branco, olha para um lado, olha para o outro, tudo estranho, uma janela fechada, uma làmpada fluorescente acesa no teto.
- Onde estou? Pensa com seus botões.
Não consegue recordar de nada, um branco total na memória, será hospital? Talvez. Será um Seminário? Pouco provável. Tenta levantar da cama e não consegue, e percebe que os seus braços e pernas estão amarrados na cama, e fica imaginando o pode ter acontecido por estar nestas condições.
Tenta relembrar de alguma coisa, nada, só lembra que saiu do serviço as 18:00, parou no bar para tomar uma coca-cola e tudo desaparece da sua mente.
- Bom dia! Diz alguém ao entrar no local que se encontra deitado.
- Bom dia - responde com uma voz vacilante.
- Como o senhor está.
- Estou muito bem, o que estou fazendo aqui neste lugar?
- Você está bem, teve uma crise, mas já está tudo sobre controle.
- Que controle, eu nunca tive nada na minha vida.
- Fique calmo, breve o senhor sairá daqui.
- Onde estou?
- Olha - responde o cidadão ao lado da cama, vestindo um avental branco, no pescoço encontra pendurado um estetoscópio, na mão um esfigmomanómetro - Aqui é o Sanatório São Camilo, mas fica em paz, você está bem.
- Estou bem? Diz estupefato - Sempre estive bem, nunca fiquei internado na minha vida.
- Foi aplicada uma injeção e em breve os seus nervos estão normais.
- Nervos? Responde aos gritos - Nunca tive problema com os meus nervos e porque estou amarrado nesta cama.
- Não se exalte, logo o enfermeiro estará aqui e irá aplicar uma dose extra de calmante, o calmante que aplicamos ao senhor foi muito bom, o senhor dormiu dois dias seguidos.
- Mas doutor, e a minha família?
- Já foi avisada.
O sorriso artificial do médico irrita ainda mais o paciente na cama, pega o esfigmomanómetro e verifica a pressão, tudo normal 12/08, os batimentos cardíacos também normais.
- Seu Souza, o senhor irá ficar bom.
- Seu Souza? Que Souza é esse, eu me chamo Carlos.
- Carlos? Perguntado o médico com os olhos arregalados.
- Justamente, Carlos Luiz da Silva.
- Mas o senhor não trabalha na fábrica de balas?
- Não senhor, eu sou contador.
Sai correndo do quarto, busca a ficha do paciente, e lá está escrito "José Souza Luz", 34 anos e os dados do paciente, encontra o número do telefone, liga e no segundo toque...
- Aló!
- Olá, quero falar com o Souza.
- Pois não, sou eu.
- Souza, aqui é do Sanatório São Camilo.
- Olá doutor, vai tudo bem aí?
- Tudo bem, e você como vai?
- Estou uma beleza, queriam me pegar, mas dei o golpe e levaram um coitado que estava ao meu lado no bar.
Desliga o telefone na cara do Souza, e volta correndo ao quarto.
- Seu Carlos, houve um mal entendido, o Souza escapou e o senhor foi colocado no seu lugar.
Carlos ao ouvir estas palavras desmaia de saber que ficou dois dias internados num sanatório, sendo tratado como um louco.
