Meus olhos não vêem as letras que você enxerga. É simples. Quando escrevo, uso os olhos do coração, que apontam para dimensões que nem meus olhos enxergam. Posso ler e reler meus textos milhares de vezes. Mas não identifico as nuanças que você pode apreciar. Os textos são espelhos de mim mesmo. Meio vampiro, não consigo me ver no espelho dos textos. Você identifica os sinais inequívocos da minha mediocridade, as cicatrizes indeléveis das minhas tristezas e o viço exuberante da minha alegria. De minha parte, resta enxergar letras. Letras que com letras viram palavras. Palavras que se sucedem em frases e mais frases. Luto para dar coerência a esse desfile. Tento usar técnica, sentido e criatividade. Busco emoções. Garimpo lembranças. Pesco sentimentos. Mas, por mais que me esforce, sou apenas um despachante de letras que não enxerga o que você pode ver.