FILHO, José Adriano. Peregrinos Neste Mundo. Edições Loyola, São Paulo, 2001. pp.101-165.
Já que a cristologia apresentada em Hebreus parte da glorificação de Cristo em bases escatológicas, já podemos apontar as fontes da solidariedade como fruto de uma intenção salvífica do divino, pois é através da dialética Deus-homem X homem-Deus que Cristo demonstra para o ser humano que é solidário, pois somente com uma ação de despojo de seus privilégios poderia esclarecer sua vontade benéfica em relação aos que se aproximam de Deus através dele.
Sendo assim, temos o tema geral do capítulo 3: a solidariedade de Cristo em virtude de um povo peregrino, e muitas vezes sem rumo aqui na Terra. Cristo agora é o sumo sacerdote perpétuo que leva os fiéis à consciência de humanidade, partindo da ordem de Melquisedec, o sacerdote da justiça. Isso em virtude da junção judaico-gentia existente na mentalidade missiológica da época.
O processo de humilhação e exaltação de Cristo passa pela comparação com os anjos, onde num momento ele é menor que os anjos, pois vem a Terra para viver entre os humanos, e num outro momento é superior aos anjos, pois está à direita de Deus. O Autor de Hebreus faz essa relação justamente para apontar a grandeza do caráter de solidariedade que Cristo empregou em sua jornada pela Terra, dando rumo aos que estão peregrinando e necessitam dele. Assim, realiza uma melhor aliança, fazendo do seu sacrifício, algo perfeito; superando os rituais antigos e deixando o ser humano livre a partir dessa nova compreensão.
Enfim, o Cristo solidário aponta caminhos para os perdidos entre as esferas terrena e divina, dando a possibilidade de ser reconhecido como aquele que admitiu ser menor que os anjos, mesmo sendo maior, só para salvar o ser humano; também quis reformular a maneira com que estes peregrinos vinham procurando a salvação de suas vidas, e fez isso através de seu próprio sacrifício na cruz, dando assim, esperança àqueles que careciam de clareza em sua caminhada por esse lugar de peregrinos, ou esfera terrena. Logo, Cristo fez-se peregrino para com os peregrinos, salvando-os em sua própria esfera e, logo que pôde, voltou para junto do Pai, sentando à sua direita e aguardando aqueles que tiveram a coragem de crer nEle.