No livro Pio XII. Un uomo sul trono di Pietro, da Editora Mondadori, Andrea Tornielli relata a história de Guido Mendes, o amigo judeu do Papa Pacelli.
Tornielli, vaticanista do jornal italiano «Il Giornale», recorda que «nos anos do instituto, Eugenio fez uma forte amizade com alguns companheiros. A relação com um deles é especialmente interessante porque se trata de um jovem, Guido Mendes, pertencente à comunidade judaica de Roma».
Descendente de uma conhecida família de doutores e pesquisadores médicos que se remontava até o médico de corte de Carlos II da Inglaterra, um dia depois da morte de Pio XII, o Dr. Mendes, que então morava em Ramat Gan, Israel, contou ao jornal «Jerusalém Post», publicado em 10 de outubro de 1958, sobre a amizade que teve com ele desde os tempos do instituto «E.Q. Visconti» de Roma.
«Pacelli – escreveu Mendes – foi o primeiro Papa que compartilhou nos anos de juventude um jantar do Shabbat em uma casa judaica e que debateu informalmente sobre teologia judaica com eminentes membros da comunidade de Roma.»
Mendes relata que Eugenio ia com freqüência à sua casa e vice-versa, e que «trocavam seus interesses e suas idéias».
Recorda que, ainda vivendo em um período no qual o clima predominante era anti-clerical e adverso ao catolicismo, Pacelli estava sempre disposto a intervir em defesa da Igreja. O futuro Pio XII manifestava muito interesse pela religião judaica e perguntava a seu amigo se podia tomar emprestado da sua biblioteca um livro do rabino Ben Herzog.
No livro, Tornielli conta que «acabado o instituto, um se encaminhou para os estudos eclesiásticos e o outro, aos de medicina. Apesar disso, conseguiram se ver ainda e a profundidade de sua relação se manifestou em especial em 1938, quando Pacelli, secretário de Estado, prodigou-se em ajudar a família Mendes, afetada pelas leis anti-semitas promulgadas pelo governo fascista italiano».
«O cardeal obteve para eles a possibilidade de mudar-se para a Suíça, desde onde, no ano seguinte, se exilaram para a Palestina», escreve.
Após a guerra, Guido Mendes e Pio XII tiveram mais dois encontros, definidos pelo médico judeu como «muito cordiais», nos quais falaram, entre outras coisas, do estatuto da cidade de Jerusalém.
Mendes recordava que o Papa Pacelli, durante um encontro com um grupo de judeus sobreviventes dos campos de concentração, disse-lhes: «Dentro de pouco, tereis um Estado de Israel».