Numa daquelas situações que, em face do insolúvel imbróglio que há milénios se depara à humanidade, estando com uma das mãos a coçar a cabeça e raciocino séria e profundamente sobre uma eventual forma que porventura, sendo plausível, resolvesse o instante problema da fome que grassa pelo mundo, surge-me a seguinte medida: em todas as transações "compra-para-venda" que fossem além do valor médio estipulado para um dia de trabalho, faria incidir a rigor uma taxa de 5%, que designaria de "Imposto Universal de Solidariedade Humana". Este produto só poderia ser aplicado em exclusivo favor de crianças e velhos, sem qualquer espécie de proveitosa intervenção.
Interrogo: pelo menos, solucionar-se-ia objectivamente grande parte do miserável estado em que permanecem milhões de vidas?
Bem... Logo que me debruço sobre a máquina humana que adjacentemente iria operar o desiderato, encontro de imediato sérias dificuldades de consumação. Ocorre-me a ideia de que teria de implantar fria e cruamente a pena de morte para todos aqueles que fraudulentamente prejudicassem o curso da medida. Mais: daí, apoquenta-me a impressão de que não vale a pêna pensar nisso e bem melhor será deixar decorrer as coisas sob o integral desígnio da natureza. Os inocentes padecem, mas os bandidos tarde ou cedo também vão acabando.
António Torre da Guia
O Lusineiro
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