A partir de uma visão pós-Revolução Francesa, quando Rousseau propôs seu conceito do "bom selvagem" a ser preservado, reforçava-se o antropocentrismo e uma defesa do indivíduo com a culminação dos Direitos Humanos, trazendo um aparente paradoxo entre o Homem e a Natureza (sim, esse discurso de novo).
A Natureza, ente abstrato, é referenciada em uma miríade de laudas como "meio ambiente equilibrado" como pontifica a magna Constituição da República do Brasil (aquela de 88). Torna-se um produto de prazer e satisfação do Homem a fim de garantir a sobrevivência das futuras gerações. Claro que todo bom biólogo sabe que a Humanidade defende o ambiente sob uma visão de salvar-se (os outros não fizeram Evolução na UFPR). Esse aparente retrocesso das discussões ambientais na verdade poderá intervir nas discussões do pensamento filosófico.
Historicamente, no Timeu, Platão insere o Homem como raça superior sobre a Natureza, por Prometeu retirar da Palas Athena e de Hefaistos a ciência. A tradição ocidental traz o homem no centro do Universo com Protágoras. A tradição oriental mostra uma contradição, quando insere o homem como parte da Natureza (ao contrário da generalização que se faz do pensamento humano). Entretanto, a questão antropocêntrica eleva o discurso de especialidade do Homem por retórica ou valendo-se do Jus Sperniandis (Direito ao esperneio). A necessidade de ser especial traz Aristóteles a definir que o homem difere dos animais por se importar com as aparências (talvez ele esteja certo!). Santo Agostinho leva o homem como presente de Deus e Tomás de Aquino declara que a racionalidade e a inteligência são exclusivas do Homem, além do fato que ele pode extrair prazer de seu trabalho (então o doutor angélico separou os funcionários públicos, os desempregados e os políticos!). Mais do que apenas inteligência, Descartes ressaltou que a inteligência do homem é perfeita (hahahahahahaha!!) e Rousseau proclama o livre-arbítrio como diferenciador. Entretanto, Hegel escreveu que o homem é o único ser que se auto-destrói (não havia biólogos decentes naquela época...) e atribui-se a Nietzsche, Wittgenstein, Hegel e Descartes a afirmação de que só o homem sabe falar (realmente faltavam biólogos).
Enfim, todas essas tentativas frustradas em se definir o homem como ser diferente serviu para fazê-lo importante e especial a ponto de dicotomizar o Homem e a Natureza até em eventos como a Rio-92, onde tudo que não é humano, é "recurso". Toda essa dicotomização tornou-se órfã após os trabalhos de diversos cientistas como Copérnico (heliocentrismo), Newton (gravitação universal), Freud (psicanálise), Lamarck (evolução da vida), Darwin-Wallace (seleção natural), Wilson (sociobiologia), Lorenz (etologia) entre outros. O abalo causado pela ciência sobre as demais filosofias clamou novamente pelo direito de espernear do Homem, trazendo-nos Spinoza dizendo que Deus está na Natureza (antes ele estava no Céu), tentando puxar passagens "ambientalistas" na Bíblia como em Gênesis 1:26.; 1:28 e da elevação de São Francisco de Assis como padroeiro da natureza. Mesmo que no fundo o Homem não se sinta parte da Natureza como ente indissociável, em contraposição se coloca como dependente desse "recurso", já entendido como não renovável diante da velocidade desenvolvimentista humana.
Busca atualmente o Homem as filosofias orientais de harmonização do Homem à Natureza e cria os fundamentos da Educação Ambiental e do Ecoturismo. Educar-se para conviver em harmonia e buscar o prazer e a satisfação pessoal longe da cultura estafante do liberalismo conservador ocidental (e surgem os malditos pseudo-budistas que gostam de fazer estilo...).
Mais do que a compreensão de dependência intrínseca do Homem à Natureza, a garantia de suas "futuras gerações" estarem a sobreviver traz o discurso do altruísmo da espécie não para que outros seres tenham o direito de habitar o planeta, mas diante da internalização do antropocentrismo oriental que instaura a idéia de Roda da Paixão (o samsara), num ciclo de nascer e morrer dos espíritos e que, o ocidental apreendeu para si e acredita que voltará a este mundo, não desejando encontrá-lo em um estado deprimente. Por fim, sem o antropocentrismo característico do Homem, não haveria a necessidade do Direito Ambiental, portanto, aqueles que ainda acreditam que são altruístas verdadeiros, devem fazer para si a seguinte pergunta: "Estou fazendo isso por que me sinto bem?". Se sim, não há altruísmo.